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Varíola dos Macacos ou Nova Varíola? Entenda porque biólogos pedem mudança de nome da doença

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Biólogos pedem mudança de nome de Varíola dos Macacos para Nova Varíola  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Pixabay
Milena Ribeiro

por Milena Ribeiro

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Publicado em 30/09/2022, às 08h34


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A doença causada pelo vírus monkeypox, conhecida, atualmente, como Varíola dos Macacos, pode receber outro nome após a Organização Mundial da Saúde (OMS) convocar um grupo de especialistas para avaliar a situação. A preocupação é de que os primatas acabem sendo expostos e agredidos por pessoas que os associam à enfermidade.

A Organização das Nações Unidas (ONU) orienta que a nominação de vírus recém-identificados, doenças relacionadas e variantes seja feita de uma forma que evite "ofender qualquer grupo cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico". Além disso, a recomendação também fala sobre minimizar qualquer impacto negativo no comércio, viagens, turismo ou bem-estar animal.

Mas, o vírus da Varíola dos Macacos foi descoberto em 1958, antes das recomendações citadas. De lá para cá, já foram registrados alguns casos de macacos mortos por pessoas que estavam com medo dos animais por causa da doença, que tem aumentado a incidência de casos globalmente.

Em Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia, por exemplo, dois macacos foram atacados e mortos por moradores que se sentiram ameaçados pelos primatas por causa da doença.

Segundo apurado pelo BNews, biólogos têm se juntado para pedir a alteração do nome em caráter de urgência. Para o professor de ciências biológicas, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), especialista em primatologia, Júlio César Bicca-Marques, a vinculação do nome da doença aos macacos traz um grande perigo aos primatas, principalmente por causa da escassez de informações sobre a origem da nominação .

"Muitos profissionais entrevistados e entrevistadores não têm conhecimento sobre o tema ou não reconhecem os riscos para a conservação dos animais", afirmou. Segundo o especialista, o uso do nome pode acarretar em graves problemas por influenciar a forma como o público leigo percebe os macacos.

"O vínculo com os macacos promovido pelo nome pode ser a informação mais saliente que fica gravada na mente das pessoas", acrescentou.

A opinião sobre o perigo à integridade dos primatas é compartilhada pelo analista ambiental, Rafael Rossato, que atua no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (CPB-ICMBio). Para o especialista, há ligação entre os casos recentes de agressões e mortes de macacos e a "desinformação gerada pelo nome equivocado da doença".

Rafael ainda ressaltou que o CPB/ICMBio é a favor da troca do nome e contou que o instituto assinou uma carta em conjunto com a Sociedade Brasileira de Primatologia e demais parceiros para que os veículos de comunicação não utilizem mais o nome "Varíola dos Macacos" e comecem a chamá-la de "Nova Varíola".

"Recomendamos fortemente que, enquanto a OMS não modificar oficialmente o nome 'Varíola dos Macacos', a doença seja denominada provisoriamente em todos os veículos de comunicação de 'Nova Varíola', termo cunhado pelo ornalista Reinaldo José Lopes, em seu artigo publicado no dia 06/08/2022 na Folha de São Paulo, mantendo o termo “Monkeypox” em textos técnico-científicos, como os boletins liberados pelo Ministério da Saúde, pois este termo é consagrado mundialmente e já utilizado pela OMS", diz trecho em documento. 

Sobre a troca do nome, Bicca-Marques ainda ressaltou: "Como o nome 'Varíola dos Macacos' já foi muito usado na mídia, é de extrema importância que todos os profissionais das áreas de saúde, meio ambiente e jornalismo adotem consistentemente o novo nome para tentarmos desconstruir o preconceito criado contra os macacos".

Mas, afinal, como surgiu esse nome?

O professor Bicca-Marques explicou que o nome foi usado porque essa varíola foi identificada pela ciência, por Marcus e colaboradores em 1959, em macacos da Ásia (Macaca fascicularis), que eram mantidos em um laboratório de pesquisa no Statens Serum Institut em Copenhagen, na Dinamarca.

"Vale ressaltar que os macacos das Américas são diferentes dos macacos da Ásia e da África", pontuou o especialista.

Apesar do nome, os macacos não são responsáveis por transmitir a doença.

E essa doença é uma zoonose?

O ambientalista Rafael Rossato afirmou que a doença é uma zoonose, porém, ressaltou que os macacos não são reservatórios deste vírus. "Estudos indicam que nos países endêmicos os animais responsáveis pela transmissão são roedores", explicou.

Os países endêmicos da doença são Benin, Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Gabão, Gana (com casos registrados apenas em animais), Costa do Marfim, Libéria, Nigéria, República do Congo, Serra Leoa e Sudão do Sul.

"No entanto, na atual epidemia em países não-endêmicos, como é o caso do Brasil, a transmissão da varíola tem sido unicamente de pessoas para pessoas", pontuou.

Rafael ainda destacou que, como a doença não é endêmica do Brasil, nem os roedores nativos teriam esse vírus.

Como se prevenir da doença?

Diferente do que muitos pensam, a prevenção não está relacionada com o distanciamento dos macacos. A melhor forma de prevenção é evitar o contato com pessoas que estejam com a varíola. O uso de máscaras, higienização frequente das mãos também são maneiras de prevenção dos riscos, de acordo com o ambientalista.

Também é orientado o uso de máscaras e a higienização, principalmente, para os funcionários do sistema de saúde, que podem ter contato com pacientes, como familiares de pessoas diagnosticadas com a doença.

"A transmissão é diferente da relacionada à Covid-19. Acontece pelo contato próximo com lesões. Pessoas que tenham suspeitas ou diagnósticos positivos devem fazer isolamento e também evitar contato próximo com qualquer animal, até domésticos, para não os contaminá-lo", afirmou.

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