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Usuários reclamam de passeio “Volta à Ilha” em Morro de São Paulo; alterações da prefeitura desagradaram

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Passageiros relatam espera de quase quatro horas para embargas, marinheiros alcoolizados e lanchas sem estrutura  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 04/12/2021, às 19h00 - Atualizado em 05/12/2021, às 13h51   Lucas Pacheco


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Turistas que visitam Morro de São Paulo, na Baía de Tinharé, têm enfrentado diversos transtornos em um dos passeios mais tradicionais da região, o “Volta à Ilha”. São diversos os relatos nas redes sociais de problemas com a compra do pacote do passeio, demora em embarcar, falta de estrutura das lanchas e cobranças de taxas abusivas. Usuários e donos de lanchas culpam a Prefeitura de Cairu que fez uma série de mudanças no sistema.

O passeio “Volta à Ilha de Tinharé e Ilha de Boipeba” é o mais conhecido de Morro de São Paulo e faz um tour pelas ilhas da região, levando os turistas às piscinas naturais de Garapuá ou Moreré.

A usuária Mylena Martins fez um longo desabafo no Facebook, na última sexta-feira (03), contando que somente para embarcar em uma das lanchas esperou quase quatro horas.

“Um dos melhores passeios que há em Morro De São Paulo - Bahia está virando um caos! Não temos mais o direito, como turista e consumidores, de escolher as nossas embarcações, e ainda temos que andar em qualquer uma, com marinheiros alcoolizados e despreparados. E fora ainda as enormes filas, que estão enormes. Demorei das 08:30 da manhã até as 12:00 somente para embarcar na lancha.”

Ela relata ainda vários outros problemas enfrentados e culpa a Prefeitura de Cairu por ter instalado um novo sistema para as lanchas que fazem o passeio, inclusive cobrando taxas abusivas e beneficiando o irmão do prefeito da cidade.

Postagem feita no Facebook
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Em uma rápida procura por tópicos sobre o passeio “Volta à Ilha” nas redes sociais, é fácil encontrar outras queixas de usuários.

Postagem no Instagram
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Donos de lanchas e de agências de viagens também relatam a frustação de consumidores com os serviços e mostram que recebem reclamações e desabafos por Whatsapp. 

E as queixas também têm partido de proprietários de hotéis e pousadas da região.

Em conversa com o BNews, em condição de anonimato, um dono de embarcação que realiza esse tipo de passeio  há vários anos afirmou que toda logística de administração do sistema era feita pela Associação dos Proprietários Das Lanchas de Passeios Volta a Ilha de Tinharé (APLPIT) e que a prefeitura colocou uma empresa para fazer a administração.

Segundo ele, essa empresa tem cobrado diversas taxas aos transportadores, desde o imposto correspondente (ISS) à taxa de maquina de cartão de crédito, o que também encareceu o serviço, não tem tido critério no credenciamento de lanchas e obriga o usuário a fazer a compra do passeio com sete dias de antecedência e sem possibilidade de escolher a embarcação e nem o condutor.

“As pessoas têm que comprar sete dias antes. No dia do passeio elas vão pra fila, têm que esperar, não sabem quem vai fazer o passeio. Não podem escolher uma lancha de confiança. Algumas não têm a mesma categoria de qualificação, estando bem acabadas. Está completamente desorganizado. O pessoal fica lá esperando, teve gente que já chorou.”

Ele ainda apontou que tem surgido na região diversas pessoas com mais dinheiro que têm comprado lanchas grandes e colocam no sistema, deixando pra trás pessoas que sempre trabalharam na região, com dedicação de uma vida toda sem nenhuma queixa ou problema.

Assim como a usuária que fez o relato no Facebook, o dono de lancha também falou sobre favorecimento do irmão do prefeito nessa nova administração dos passeios na região.

“A gente agora tem uma parada obrigatória, em um lugar obrigatório, para fiscalizar, que eles dizem que é pra fiscalizar, e que a gente é obrigado a pagar. Um píer que é do irmão do dono do prefeito. Tem que parar nesse lugar, que é pago, para fiscalizar, para ver a quantidade de passageiros, essas coisas.”

Perguntando se já teria havido uma tentativa de interlocuação com a prefeitura para resolução da questão, o homem afirmou que a associação entregou, na quinta-feira (02), ao prefeito de Cairu, Hildecio Meireles (DEM), um abaixo assinado com assinaturas de mais da metade dos seus membros, pedindo a suspensão desse novo sistema até que ele seja totalmente estruturado e não cause mais transtornos a turistas e usuários, mas até agora não teve retorno.

Ele completou com um desabafo: "Esse modelo de trabalho prejudica as pessoas que sempre fez o passeio e que fez investimentos e agora tem que ficar na fila esperando sua vez. Muita gente que tem lanchas e nunca procurou parcerias e nem faz um bom serviço, agora encosta na praia e tem os mesmos direitos que a gente. Tem mais de 110 lanchas cadastradas. Eu tinha todos os dias meus clientes e hoje não posso mais levar. Tenho que colocar em umas lanchas feias, com marinheiros mau educados, péssimo serviço, além de passar por um constrangimento na hora do embarque."

"Modernização do serviço"

Em nota enviada ao BNews, a prefeitura de Cairu afirmou que a implementação do aplicativo de venda de passeios "Volta à Ilha em Morro de São Paulo" é parte da modernização do serviço turístico do arquipélago. "O app é uma ação que visa transformar nossos destinos seguindo a tendência mundial de smart city, fazendo de Cairu uma cidade inteligente, com obtenção de dados para o planejamento do desenvolvimento econômico", justificou.

A assessoria do município ainda diz que, como o aplicativo foi lançado há menos de um mês, é natural que haja "certa resistência", como definiu, à ferramenta. "Notamos que a insatisfação tem sido apontada por raros operadores que antes vendiam no boca a boca, método que funciona, mas é desatualizado para os tempos atuais."

No posicionamento, a prefeitura também ressalta que a avaliação sobre a estrutura das lanchas é de responsabilidade da Capitania dos Portos da Bahia. " Portanto, é uma questão sob a qual a Prefeitura de Cairu não tem qualquer gerência, mas adianta que as mais de 100 embarcações estão em bom estado de conservação e os passeios saem diariamente da ilha."

Confira abaixo a nota da prefeitura de Cairu na íntegra:

Em respeito ao jornalismo do site BNews, a Prefeitura de Cairu vem a público esclarecer que a implementação do aplicativo de venda de passeios Volta à Ilha em Morro de São Paulo é parte da modernização do serviço turístico do arquipélago. A título de contexto, vale lembrar que, antes da instituição desta tecnologia, a venda dos passeios era feita de forma direta com donos de lanchas, marinheiros e guias turísticos, sem padronização de preços, controle do fluxo e segurança de usuários. O app é uma ação que visa transformar nossos destinos seguindo a tendência mundial de smart city, fazendo de Cairu uma cidade inteligente, com obtenção de dados para o planejamento do desenvolvimento econômico.

A adoção do aplicativo é recente, feita há menos de um mês, e é natural que haja uma certa resistência e processo de adaptação ao uso, mas estamos certos de que esse sistema chega para conduzir o Arquipélago de Cairu ao futuro do turismo, uma de nossas principais economias. Notamos que a insatisfação tem sido apontada por raros operadores que antes vendiam no boca a boca, método que funciona, mas é desatualizado para os tempos atuais.

É importante dizer que não é verdade que o aplicativo encareceu passeios com o Imposto Sobre Serviço (ISS). Esse imposto sempre foi cobrado e, nesta gestão, foi reduzido de 5% para 3% como forma de incentivo ao atrativo turístico. Ele é somado à taxa de 7% do app, referente ao custo de administração das operações neste sistema digital. Dessa maneira, os donos de embarcações foram, inclusive, poupados de pagar as taxas de administração de suas máquinas de cartão, já que o aplicativo faz tudo. Com isso, calcula-se que houve um ganho de R$ 72 a mais em cada passeio para os donos de embarcações.

“Há pessoas que não estão vendendo pelo aplicativo e levam o turista para o local, sem a compra, o que cria um tumulto. O aplicativo está funcionando, mas é claro que nesse início há esses comportamentos que nós vamos ajustando”, explica Cláudio Brito, secretário de Turismo. Toda a implantação do sistema foi realizada após dezenas de reuniões com todas as associações envolvidas no segmento e a prefeitura segue promovendo reuniões, aberta ao diálogo para construir uma experiência cada vez melhor.

Sobre a acusação de falta de estrutura das lanchas é importante salientar que elas são as mesmas usadas antes da implantação do app e que este tema é de fiscalização da Marinha do Brasil, através da Capitania dos Portos. Portanto, é uma questão sob a qual a Prefeitura de Cairu não tem qualquer gerência, mas adianta que as mais de 100 embarcações estão em bom estado de conservação e os passeios saem diariamente da ilha.

Por fim, informamos que as exuberantes ilhas do Arquipélago de Cairu são um importante ativo natural da Bahia, com destinos e experiências que têm o carinho de baianos, demais brasileiros e estrangeiros do mundo inteiro.

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