Entrevista

Jaques Wagner: “Lula é muito maior do que ACM Neto na Bahia”

Joilson César/BNews
Senador e braço direito de Lula diz acreditar que a vinculação nacional será determinante na corrida estadual  |   Bnews - Divulgação Joilson César/BNews

Publicado em 04/04/2022, às 06h00   Victor Pinto e Eliezer Santos


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Jerônimo Rodrigues assumiu a dianteira da campanha do PT ao governo do estado, mas é o senador Jaques Wagner que ainda mantém o principal enfrentamento a ACM Neto, pré-candidato do União Brasil ao Palácio de Ondina, sobretudo no debate sobre a nacionalização da eleição estadual. 

Wagner aposta mais uma vez na receita que viabilizou as vitórias do PT na Bahia desde 2006 e afirma que a estratégia de palanque aberto usada por Neto “vai desmontar na caminhada da campanha”.

E mais ainda, o ex-governador sustenta a declaração de que “Lula é muito maior do que ACM Neto na Bahia”.

Wagner conversou com exclusividade com o BNews, neste domingo (3), durante o lançamento do Programa de Governo Participativo (PGP) de Jerônimo, em Feira de Santana. Entre outras coisas, comentou sobre a vinda de Lula na última quinta-feira (31), o choro do governador Rui Costa e também sobre o imbróglio do ex-juiz Sérgio Moro com o Podemos e União Brasil.

Confira:

BNews - Repercutiu muito aquela foto de Jerônimo com ACM Neto. E algumas pessoas da base chegaram até a mencionar que era tudo que Neto queria, ter uma foto fazendo referência a Lula. O senhor enxergou dessa forma? 

Jaques Wagner - Na verdade, eu enxerguei igual aquelas fotos que tem um amigo batendo foto aí você bota um chifre atrás. O cara tá lá e o outro faz um Lula e ele está na foto... óbvio que ele pode querer usar dizendo ‘eu também aceito apoiar Lula’. Isso é conversa fiada dele. Mas na minha opinião, usando a linguagem de vocês, eu achei mais que Jerônimo trolou ele. Na verdade, é o seguinte, ele vai tentar o tempo, ali era uma festa, de qualquer forma a cortesia é normal. Mas no dia anterior ficou mais do que claro para a Bahia e para o Brasil quem é o candidato de Lula aqui. Foi isso que interessou. 

BNews - Em entrevista à Veja João Roma se colocou como o único opositor ao PT na Bahia. E usou essa foto para poder corroborar esse discurso. Você só enxerga João Roma como opositor? 

JW - Não. Na verdade, acho que Roma quis usar a polarização Bolsonaro e Lula para puxar tudo que tem de Bolsonaro para o lado dele. Ele fez a mesma coisa. Eu vou fazer também. Só que eu acho que ele faz de uma forma errada. Ele deveria ter dito que o único candidato de Bolsonaro aqui sou eu. Quem estiver apoiando o Bolsonaro sou eu. Não adianta ele dizer que os outros são porque ele não é o candidato de Lula nem diz que é. Ele é o candidato de Lula, de Ciro, do inferno todo. Eu acho que é uma coisa inclusive muito feia, muito inconsistente do ponto de vista política. Alguém que quer ser governador de um estado da importância da Bahia, fazer um jogo desse tipo, Maria vai com as outras. Como é que eu sou candidato a governador e digo ‘pra mim tanto faz’? Tanto faz Bolsonaro? Tanto faz Lula? Tanto faz Ciro? Você é um candidato a governador que não tem uma opinião para dar para o seu povo? É tanto faz mesmo? Porque se é tanto faz, sua opinião a mim não me interessa. Agora eu acho que Roma, eu entendi o que ele quis fazer. Ele quis dizer que ele é o Bolsonaro e é verdade. No fundo o que ele quer é o seguinte: quem é bolsonarista não se iluda. O baixinho não representa Bolsonaro, que representa Bolsonaro é aqui. Eu vou dizer a mesma coisa: quem quiser votar em Lula, não se iluda, o de Lula aqui é Jerônimo. E ele está, desculpe, como rolha na água, para não dizer outra coisa. 

BNews - Qual o balanço que o senhor faz do evento de quinta? Alguns comentários, as análises apontam que Lula não foi tão incisivo no discurso como esperávamos. Eu acho que a parte incisiva coube mais ao senhor no seu discurso. Achou que Lula deu uma amaciada, pisou no freio? 

JW - Ele não tem por que amaciar, porque Lula é muito maior na Bahia do que ACM Neto. Não é ACM Neto que vai levar voto pra Lula, Lula é um guarda-chuva maior. ACM Neto quer ver se fica debaixo desse guarda-chuva para ganhar alguma coisa. Não vai ficar. Porque a história dele não é essa, porque ele foi para a tribuna dizer que ia dar uma surra em Lula, que tudo que ele defende não tem nada a ver com o que Lula defende. Ele está fazendo mão de gato, sabe qual é? Ele está querendo se fantasiar de Bolsonaro quando coube, de Ciro quando couber, de Dória quando couber, de Moro quando couber, de Lula quando couber, mas nenhuma.... porque ninguém usa todas as fantasias. Ele tem que escolher, mestre-sala, tem que ver que ala que ele vai andar na escola de samba. Ele está sem ala, ele quer ficar sassaricando em todas as áreas. Para mim isso não cola. Isso vai desmontar na caminhada da campanha. Eu acho que o que interessa, independente se foi mais ou menos incisivo, é que Lula veio aqui dizer esse é o meu, entendeu? Não é do perfil dele xingar ninguém, ele nem falou mal de Bolsonaro, ele tá numa outra de juntar gente em torno dele. Agora, se alguém tem dúvida, quem é o dele aqui... O problema é que Neto está sem caminho e fica tentando escorregar nesse negócio, não vai demorar muito essas coisas, quando a campanha esquentar e der a polarização Bolsonaro e Lula, quando der Bolsonaro e Lula, acabou a brincadeira dele, entendeu? Porque é isso que vai acontecer, eu acho até que vai ter muito voto útil lá do meio para o final da eleição, vai começar a ter voto útil. Porque as pessoas estão assim: ou é fulano ou é beltrano. Aí o Ciro fica com seis, sete. O Moro, pelo visto desistiu. Quem mais que tem de candidato? Não adianta, o fogo vai pegar aí, e o Lula vai ter um representante aqui e o Bolsonaro vai ter. 

BNews – O que o senhor achou dessa movimentação de Moro, que Renata Abreu foi pega de surpresa. Moro inclusive utilizou da estrutura do Podemos para poder viajar e se filiar ao União Brasil. O que que o senhor achou dessa confusão que o Moro fez? 

JW - É mais do mesmo, né? Ele sempre fez isso. Ele usa as estruturas para os interesses pessoais dele, usou a Justiça para fazer uma jogada política que era do interesse dele e de outros que estavam em volta dele. Agora fez a mesma coisa, ficou no Podemos. Quando ele viu que o Podemos não tinha tamanho, nem ele tinha tamanho para chegar onde queria, ele foi para um partido que é maior, mas que perdeu muito deputado, né? Hoje o maior partido ficou o PL. [UB] foi quem mais perdeu, o PL ficou com setenta e tanto, mas pelo menos tem mais dinheiro. Agora, o que que ele vai fazer...diz que que o projeto dele é São Paulo. Mas de qualquer forma o rapaz daqui ficou nervoso e vai ter que ficar nervoso porque ele é correligionário de Moro. Ou ele vai negar que Moro é correligionário? O cara vai ser um cara importante lá. Ele vai dizer também não, o União do Brasil de São Paulo é uma coisa daqui é outra. Ele está querendo esconder.

BNews - O senhor foi pego de surpresa com aquele choro de Rui Costa no palco (no evento de quinta-feira)? Qual foi o seu sentimento naquele momento? 

JW - Eu vi que ele já estava, eu sabia que ele estava muito pressionado, já que houve muita incompreensão e imputaram a ele todas as culpas. Na verdade, não teve culpa, né? Nós tentamos fazer uma montagem que não funcionou, fundamentalmente porque Otto não quis, não estava em condições de ser candidato a governador. Então, eu acho que ele estava com esse negócio travado, para mim foi uma surpresa, mas foi uma emoção verdadeira da parte dele e da minha também.

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