Especial
Publicado em 02/12/2019, às 15h18 Yasmim Barreto
27 unidades federativas e apenas uma língua-mãe: o português brasileiro, engana-se quem pensa que os brasileiros têm uma forma universal de se comunicar. Em cada canto do país é possível ouvir e perceber diversos sotaques, gírias e o próprio português que ganha formatos específicos em cada região. Esse cenário é consequência da pluralidade da população e, principalmente, de como essa língua de origem europeia chegou à América, explicou a professora de linguística da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), Amanda dos Reis.
Na série do BNews - Enegrecer para Ver- a professora afirmou que os africanos foram uns dos principais responsáveis na distinção do português falado no Brasil com o português da Europa. Além disso, destacou que a escravização, no processo de implantação da língua, contribuiu para essa diferenciação.
“Os escravos africanos e, principalmente, de subgrupos de origem Banto foram responsáveis de adquirir português de uma forma forçada, violenta e abrupta, sem escolarização, eles simplesmente tinham que adquirir aquela língua para sobrevivência, sem um contato significativo com a língua alvo”, reiterou.
Palavras formadas com padrão de consoante, seguido de vogal e consoante, como: batata; banana, ou frases com dupla negação: eu não vou não; não quero não, também são exemplos da língua de origem africana e que criou raízes no Brasil, pontuou a doutora em Língua e Cultura, Fernanda Machado.
No entanto, parte das contribuições africanas, por meio do processo da escravidão, trouxe conotações negativas na junção com o português europeu e alavancou uma segregação social e racial que perpassou o ‘espaço-tempo’, de acordo com a especialista em Língua e Cultura. “É entendido como incorreto no português a não marcação de plural em todos os elementos de sintagma nominal, por exemplo. Então, a gramática tradicional traz como certo “as meninas bonitas” e se alguém fala “as menina bonita”, que é uma marca das línguas Banto, é entendida como erro”, comparou Fernanda.
À reportagem, Amanda dos Reis explicou que esse fenômeno é consequência da crioulização que aparece mais latente nas comunidades remanescentes de quilombos, nas quais tiveram contato com o português e as línguas africanas de forma mais significativa.
Essa estigmatização em relação às heranças das línguas dos africanos no Brasil é denominada pelas especialistas em língua como racismo linguístico, que pode aparecer através da discriminação no modo como essas pessoas se expressam e no ocultamento da contribuição da população africana na formação do português brasileiro.
“A gente tá falando de uma maneira de epistemicídio negro, como diria a filósofa Sueli Carneiro, porque você não esclarece a população que o português é como é por causa das contribuições da população negra no Brasil e que foi a população que de fato povoou todas as regiões. Em um país com dimensões continentais, isso muito se dá pela população negra quanto agente difusor e propagador”, completou a doutora em Língua e Cultura, Fernanda Machado.
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