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PF reafirma não ter indícios sobre estupro e sumiço de meninas yanomamis

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O delegado disse acreditar que a denúncia se originou de uma falha de comunicação gerada a partir de um "conflito de narrativas"  |   Bnews - Divulgação Leonardo Prado/PG/FotosPúblicas/2015

Publicado em 06/05/2022, às 18h20   Folhapress


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A Polícia Federal informou na manhã desta sexta-feira (6) que, até o momento, as investigações não encontraram indícios sobre os supostos crimes de estupro de uma adolescente yanomami e sobre o sumiço de uma outra criança da mesma etnia da comunidade de Aracaçá, na Terra Indígena Yanomami, em Roraima. O inquérito ainda não foi concluído e novos fatos podem surgir, de acordo com o órgão.

Em denúncia por vídeo nas redes sociais feita dia 25, o presidente do Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana), Júnior Hekurari Yanomami, disse que uma adolescente de 12 anos foi estuprada e morta e uma criança de 4 anos caiu de um barco após terem sido levadas por garimpeiros ilegais e invasores do território.

Nesta quinta (5), Hekurari disse em depoimento à PF que yanomamis desaparecidos após suposto confronto com garimpeiros foram encontrados.

Na entrevista nesta sexta, o delegado da Polícia Federal e titular da investigação, Daniel Pinheiro Leite, afirmou que durante os dias 27 e 28 de abril o órgão realizou diligências na região de Aracaçá tendo como foco as denúncias envolvendo eventual estupro ou homicídio de indígenas na comunidade.

Na operação, os agentes teriam identificado e entrevistado alguns integrantes de Aracaçá, que disseram, intermediados por tradutores da língua sanöma (yanomami) que não sabiam nem tinham conhecimento de nenhum estupro ou assassinato no local, de acordo com Pinheiro.

"Na localidade do Aracaçá, quando chegamos, os indígenas que moram hoje lá não nos relataram nenhum ato de violência que tenha ocorrido lá naqueles dias imediatamente e sobre esses fatos da denúncia recente. Não confirmaram que nenhuma criança de 12 anos foi estuprada e em seguida morta por garimpeiros e nem sobre a criança afogada", afirmou o delegado.

No entanto, ele não descarta que o fato tenha ocorrido em outro momento. "Não estou dizendo que não aconteceu. A investigação continua tramitando. Só estou dizendo que lá, quando chegamos, essa informação não ocorreu."

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O delegado disse acreditar que a denúncia se originou de uma falha de comunicação gerada a partir de um "conflito de narrativas". Ele sugeriu que os relatos de crimes teriam começado após a apresentação de um vídeo a uma liderança indígena por um servidor da Funai (Fundação Nacional do Índio).

O vídeo é de autoria do Instituto Socioambiental e traz um o depoimento de um indígena não identificado sobre garimpeiros exigirem favores sexuais de mulheres e crianças yanomami em troca de comida. A peça, de acordo com Pinheiro, faz parte da divulgação de um relatório elaborado pela instituição e que trata sobre violência contra a etnia.

Ao assistir o material, segundo o delegado, a liderança teria dito que teria "muita preocupação de que esse fato esteja ocorrendo na comunidade do Aracaçá", que seria a comunidade de seus familiares.
"Essa informação foi passada para outro indígena. Este segundo teria tomado a informação como um fato acontecido no Aracaçá, repassou para outra liderança, que a tornou pública como um fato ocorrido, com riqueza de detalhes", declarou o delegado.

Aldeia queimada Pinheiro afirma que as investigações também não apontam para o desaparecimento de indígenas nem para a relação do fato com o incêndio causado na aldeia.


"A morte de alguma pessoa da família, o que pode levar a essa medida como um luto da comunidade. Só que essa possibilidade nos trouxe mais indícios ainda de que não houve uma morte violenta no local, porque nenhum dos componentes da comunidade estava de luto. Falavam conosco de maneira tranquila sobre a situação", disse.

"A queima da maloca parece estar relacionada a uma movimentação da etnia para outras localidades. Temos a informação a partir de relatos dos próprios indígenas que inclusive alguns estariam próximos à comunidade de Palimiú."

Durante a apuração, que teve participação do Ministério Público Federal, Sesai (Secretaria Especial de Saúde do Índio) e Funai, ele diz ter identificado seis pessoas. "O total de moradores são nove, mas uma pessoa está em tratamento na Casa do Índio, em Boa Vista, com duas crianças", declarou Pinheiro, ressaltando que as investigações não estão concluídas e novos fatos podem ocorrer.

Segundo Pinheiro, no local não havia indícios visuais de corpos carbonizados. Um perito da Polícia Federal colheu cinzas da cabana que foi encontrada queimada e agora o órgão aguarda o laudo sobre o material encontrado.

A reportagem não conseguiu localizar Júnior Hekurari Yanomami, autor da denúncia, para comentar os apontamentos da PF.

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