Política

Embaixada do Brasil na Espanha ataca jornal El País

Carlos Rosillo Divulgação
O texto é mais um exemplo numa série de respostas que diplomatas foram instruídos a dar a jornais estrangeiros que publicaram reportagens contra o governo   |   Bnews - Divulgação Carlos Rosillo Divulgação

Publicado em 23/03/2021, às 11h35   Redação BNews


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A embaixada do Brasil em Madri atacou, através de uma carta, o principal jornal da Espanha: El País.

Numa carta de quatro páginas enviada no último dia 17 de março ao diretor do diário Javier Moreno e assinada pelo embaixador Pompeu Andeucci Neto, o Itamaraty diz que os " êxitos" da campanha contra a covid-19 são reconhecidos pela população, que a pobreza cai e que a democracia é sólida no Brasil.

O texto é mais um exemplo numa série de respostas que diplomatas foram instruídos a dar a jornais estrangeiros que publicaram reportagens e colunas contrárias ao presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos meses, outros meios de comunicação no exterior já receberam cartas similares, entre eles o jornal Le Monde.

No caso do jornal espanhol, a queixa se referia a um editorial publicado pelos espanhóis, no dia 11 de março e sob o título "El Impacto de Lula". De acordo com o embaixador, o texto é "desconectado da realidade dos fatos no Brasil".

O documento também critica o fato de o jornal ter apontado a polarização na sociedade brasileira, como resultado das ações de Bolsonaro. "Já ouviram falar da polarização das sociedades modernas? da polarização nos EUA, em relação ao Brexit?", questiona o embaixador. "Se há um elemento que caracteriza as sociedades democráticas contemporâneas é a polarização de suas populações sobre opções essenciais", explica.

"A polarização politica no Brasil - se é que existe uma polarização politica no Brasil", não viria da atuação do presidente e insiste que o debate deve ser visto como um exemplo do "pleno funcionamento" da democracia no Brasil. A retórica do presidente Bolsonaro é apenas inaceitável para aqueles que recusam o pluralismo das visões politicas, que desejam invalidar a liberdade de opinião e que acreditam na versão única, de fonte única, de partido único", destacou o embaixador na carta.

Sem elencar o fato de que vários dos filhos do presidente estão sob investigação, o diplomata também cita o trabalho de Bolsonaro para "projetar luz sobre vantagens indevidas" e garante que o compromisso do presidente com a democracia é "firme, constante e inexorável". Segundo ele, as "instituições funcionam" no Brasil e o presidente "cumpre rigorosamente a Constituição". O Itamaraty tampouco cita o fato de o Brasil estar sendo questionado inclusive por relatores da ONU em relação aos ataques contra jornalistas. A carta prefere apenas dizer que Bolsonaro nunca impediu que outros jornalistas expressem ampla e livremente sua "amargura" contra o governo e aponta como o presidente é "ofendido" todos os dias.

Pandemia

O documento não faz referência ao fato de o país ser hoje o líder mundial em novas mortes provocadas pelo novo coronavírus. Mas, segundo o diplomata brasileiro, há no país um "elevado nível de aprovação pública" no que se refere às gestão da pandemia.

A carta aponta que esse percentual da população é "inequívoco em reconhecer os êxitos e acertos de uma gestão da crise sanitária que somente o El Pais tem a irresponsabilidade de qualificar como nefasta".

O diplomata questiona se as posições do editorial seriam "resultado da ignorância ou ma fé?" O texto ainda conclui com ataques duros, insistindo sobre uma versão "alienada" por parte do jornal e acusando os espanhóis de "radicalismo político típico de quem tem dificuldade de aceitar visões alternativas". A apuração é de Jamil Chade, do portal Oul. 

Classificação Indicativa: Livre

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