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Emissário dos EUA se reúne com Bolsonaro e propõe reunião bilateral com Biden

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Agora, o presidente deve decidir se vai ou não aos EUA nas próximas 48 horas.  |   Bnews - Divulgação Divulgação/PR/White House

Publicado em 24/05/2022, às 21h01   Ricardo Della Coletta// Folhapress


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O presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu na manhã desta terça-feira (24), em Brasília, o enviado especial do governo dos Estados Unidos para a Cúpula das Américas, Christopher Dodd. Ele disse ao brasileiro que o líder americano, Joe Biden, aceitaria fazer uma reunião bilateral com Bolsonaro às margens do evento.

Agora, o presidente deve decidir se vai ou não aos EUA nas próximas 48 horas. O governo americano, que organiza esta edição da cúpula, está preocupado com um possível esvaziamento do encontro, a ser realizado em Los Angeles no início de junho. Por isso, enviou um emissário para tentar convencer o mandatário brasileiro a comparecer à reunião.

O encontro no Palácio do Planalto durou menos de uma hora. O objetivo da viagem de Dodd, ex-senador democrata, foi, mais do que fazer o convite, manifestar a importância da participação do governo brasileiro no encontro, de acordo com pessoas envolvidas nos preparativos da reunião.

Após o encontro, a embaixada americana em Brasília divulgou uma declaração de Dodd. O democrata disse que viajou ao Brasil para "reforçar o apreço de longa data pela parceria profunda e importante que os dois países compartilham" e, na reunião, reiterou o desejo de que o Brasil seja um "participante ativo" da cúpula. "Reconhecemos a responsabilidade coletiva de avançar para um futuro mais inclusivo e próspero", declarou o emissário do governo dos EUA.

Ele afirmou ainda que o Brasil "tem muito a contribuir" com os temas que serão discutidos em Los Angeles. "Valorizamos muito a voz do Brasil enquanto discutimos soluções que ajudarão a construir vidas melhores para as pessoas do nosso hemisfério".

A 9ª edição da Cúpula das Américas foi idealizada pelos EUA como forma de simbolizar o retorno da liderança do país sob Biden em assuntos da América Latina. Quando estava na Presidência, o republicano Donald Trump faltou ao evento em 2018, tornando-se o primeiro líder do país a negligenciar o encontro.

Apesar de uma reunião bilateral ser desejada por membros do governo brasileiro -seria uma maneira de reforçar o argumento de que o Brasil na verdade não enfrenta um isolamento internacional-, o contato com Biden, um democrata, é visto por membros da pré-campanha de Bolsonaro como algo de pouco valor eleitoral, já que o presidente é aliado declarado de Trump.

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Durante a campanha eleitoral americana, em 2020, o brasileiro disse que torcia pela reeleição do republicano. Mesmo depois de a vitória de Biden ser confirmada, repetiu teorias trumpistas de que o resultado teria sido fraudado -o governo americano nunca encontrou qualquer indício disso- e foi um dos últimos líderes a cumprimentar o democrata.

A cúpula deste ano pode ficar esvaziada não apenas porque Bolsonaro sinalizou resistência a comparecer, mas também porque o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, indicou que pode faltar.

Por isso, antes de vir ao Brasil, Dodd teve uma reunião virtual com AMLO para tentar reverter a decisão de não ir a Los Angeles. Para os americanos, realizar o encontro nos EUA sem os governantes das duas maiores economias da região seria um fiasco diplomático e reforçaria a imagem de que Washington já não tem o protagonismo de outrora.

AMLO disse na semana passada que só irá à cúpula caso os EUA convidem os governos de Cuba, Nicarágua e Venezuela -Washington vê as ditaduras como párias. ​O boliviano Luis Arce fez declaração de mesmo tom.

Embora um convite aos regimes autoritários esteja fora de cogitação, interlocutores avaliam que a flexibilização de sanções e restrições contra Cuba e Venezuela, anunciadas na semana passada, também foram sinalizações de Biden para tentar dobrar a resistência do líder mexicano.

Os EUA anunciaram a retirada de medidas impostas durante o governo Trump a remessas de dinheiro e viagens a Cuba. Na prática, as novas determinações facilitam, entre outros pontos, o envio de dólares de cubanos que moram nos EUA para familiares na ilha. Já o alívio das sanções contra a ditadura de Nicolás Maduro deve permitir que a estatal petrolífera PDVSA realize negócios antes proibidos.

Um alto funcionário do governo americano ouvido pela agência de notícias AFP disse esperar que uma das principais consequências do anúncio seja a retomada das negociações entre chavistas e membros da oposição venezuelana no México, sob mediação da Noruega.

A agência Reuters informou que autoridades americanas cogitam permitir a presença de um enviado de Havana sob a condição de que ele tenha cargo abaixo do ministério das Relações Exteriores. A discussão, porém, está no início, e ainda não se sabe se o regime cubano aceitaria o convite sob esses termos.

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