Política

Esperamos que Bolsonaro tenha reforçado mensagens a Putin, diz porta-voz dos EUA

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Os dois líderes se encontraram nesta quarta-feira (16), em Moscou, em meio à crise envolvendo a Ucrânia, que opõe os russos ao Ocidente  |   Bnews - Divulgação Sputnik/Mikhail Klimentyev/Kremlin

Publicado em 16/02/2022, às 21h06   Folhapress


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O governo dos Estados Unidos disse ter esperança de que o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) tenha usado sua reunião com o presidente russo Vladimir Putin para "reforçar os valores da ordem internacional" que compartilham com os EUA.

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Os dois líderes se encontraram nesta quarta-feira (16), em Moscou, em meio à crise envolvendo a Ucrânia, que opõe os russos ao Ocidente. Antes de um almoço, de uma reunião fechada e de pronunciamentos curtos, Bolsonaro se disse "solidário à Rússia" nas palavras de abertura do encontro -sem especificar a que aspecto manifestava solidariedade.

"Temos a responsabilidade de nos posicionarmos pelos valores que compartilhamos. E o centro desses valores são os princípios da ordem internacional. Ordem que, por mais de sete décadas, fomentou níveis sem precedentes de prosperidade, segurança e estabilidade na Europa, no [oceano] Pacífico e em nosso hemisfério", disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado, após pergunta feita pela reportagem em entrevista coletiva.

"Assim, nossa esperança é que o presidente Bolsonaro tenha aproveitado a oportunidade de reforçar, no encontro com o presidente Putin, as mensagens sobre os valores que compartilhamos."
O porta-voz não respondeu se as relações entre Brasil e EUA podem ser afetadas no futuro, caso o líder brasileiro não tenha expressado essas mensagens. E também não comentou a declaração de solidariedade de Bolsonaro para com os russos.

Antes da fala de Price, em conversa com jornalistas em Moscou, Bolsonaro minimizou a questão do momento de sua visita e disse o que já havia falado antes, que apenas apoia governos que querem a paz. Voltou a dizer que "todos os países têm problemas".

"Alguns países achavam que não deveríamos vir. Mantivemos nossa agenda, por coincidência ou não, parte das tropas deixou a fronteira", disse o presidente. "A leitura que eu tenho do presidente Putin é que ele é uma pessoa também que busca a paz."

Questionado sobre se teria enviado alguma mensagem à Ucrânia, Bolsonaro deixou o púlpito improvisado e tentou interromper a entrevista. Voltou, respondendo também que havia feito "tudo o que havia sido acordado" em termos de testes de RT-PCR para detectar o coronavírus.

No Brasil, a viagem do mandatário foi elogiada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Questionado por jornalistas sobre a ida a Moscou e as declarações de Bolsonaro, ele disse que, independentemente da circunstância, é importante o desenvolvimento de boas relações com todos os países e que o Brasil seja bem representado no exterior.

"É muito importante para o Brasil, no momento em que a gente quer reerguer, crescer nossa economia, nos desenvolvermos, termos boas relações internacionais com Estados Unidos, países da Europa, da Ásia, China, que é o mais importante parceiro comercial que o Brasil tem, com os países do Oriente Médio, países árabes", afirmou Pacheco, ao chegar para sessão do Senado.

Ele acrescentou ainda ser essencial que o chefe de Estado "possa representar o país numa discussão de alto nível, no estabelecimento de boas relações comerciais". "A Rússia é importante para o Brasil, assim como o Brasil também o é. Então acho muito importante que haja a intensificação dessas relações internacionais."

O presidente do Senado em seguida lembrou a crise envolvendo a Rússia e a Ucrânia, mas completou que o Brasil deve ser bem representado no exterior, mesmo em momentos considerados delicados geopoliticamente. "Entendo que o presidente da República, independente dessa circunstância, possa representar bem o Brasil."

Na coletiva, Price disse que há indícios de que a Rússia tenha enviado ainda mais tropas para a fronteira da Ucrânia, em vez de retirar soldados. E que o risco de uma invasão russa segue presente.

"Nossa análise é a que a invasão pode começar a qualquer momento. Estamos dizendo isso há algum tempo. Não vamos ter um prazo preciso, mas o fato permanece, que a Rússia está em posição e tem o que precisa para realizar um ataque", disse o porta-voz.

Ucrânia e Rússia vivem uma crise há semanas, desencadeada depois de o Kremlin mobilizar de 100 mil a 175 mil soldados em zonas próximas às fronteiras com a Ucrânia. Os EUA e aliados da Otan, a aliança militar ocidental, acusam Putin de preparar uma invasão do país vizinho, como fez em 2014, quando anexou a Crimeia.

Moscou, por sua vez, rejeita a expansão da Otan sobre territórios próximos à Rússia e quer a garantia de que a Ucrânia jamais fará parte do grupo. Putin nega qualquer intenção de promover uma invasão militar.

Antes da viagem de Bolsonaro, houve pressão dos EUA para que a ida do líder brasileiro a Moscou fosse adiada. Diplomatas americanos expressaram preocupação com o timing da visita, pois a recepção de Bolsonaro por Putin passaria a mensagem de que o Brasil apoia as ações do Kremlin no Leste Europeu, dando legitimidade a algo que os EUA consideram uma violação do direito internacional.

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