Justiça

Ex-presidente do TSE diz que "judiciário não governa, mas impede desgoverno"

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Um dos 15 ex-presidentes da Corte Eleitoral a assinar uma carta nesta segunda-feira (3) em defesa à segurança das urnas eletrônicas e o modelo vigente, Ayres Britto fez um apelo em entrevista ao Globo pela separação dos poderes e admite nunca ter visto uma postura tão agressiva de um líder do Executivo  |   Bnews - Divulgação Reprodução/STF

Publicado em 04/08/2021, às 08h31   Redação BNews


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O ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Carlos Ayres Britto se posicionou de forma contundente aos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao sistema eleitoral do país. 

Um dos 15 ex-presidentes da Corte Eleitoral a assinar uma carta nesta segunda-feira (3) em defesa à segurança das urnas eletrônicas e o modelo vigente, Ayres Britto fez um apelo em entrevista ao Globo pela separação dos poderes e admite nunca ter visto uma postura tão agressiva de um líder do Executivo, como a de Bolsonaro.

"Não, com essa agressividade, com essa contundência, não. Eu fui presidente durante dois anos e jamais havia visto", respondeu o ministro ao ser perguntado sobre a conduta do atual presidente da República.

Cuidadoso ao falar das consequências dos procedimentos abertos pelo TSE, Ayres evita fazer "juízo" da situação, mas diz que pode chegar no "limite" a ser enquadrado em "crime eleitoral".

"No limite, o presidente pode incorrer em crime eleitoral. O Código Eleitoral é específico sobre quem faz denunciação caluniosa eleitoral. Eu não estou dizendo que o presidente cometeu tais crimes. Eu estou dizendo que o presidente se expõe a esse tipo de investigação por denunciação caluniosa eleitoral, daí esse inquérito aberto pelo corregedor do TSE. E daí porque se encaminhou a matéria para o STF. Não é um juízo a priori, mas uma avaliação em tese", declarou.

Para o ministro aposentado, não há justificativa para retomar o voto impresso. Segundo ele, o mecanismo é um prato cheio para a "manipulação humana" dos votos e que já foi utilizada em outros períodos, mas que a conclusão é de que não era um sistema eficiente.

"Em 1996, já se experimentou em paralelo à comprovação da autenticidade do processo via impressoras, e essa experiência foi repetida em 2002. A conclusão a que se chegou à luz do dia, tecnicamente, é de que o voto impresso é inapropriado para o fim que se pretende. É como misturar água e óleo. Só faz conturbar, e se presta para manipulação humana, para, aí sim, fraudes. Seria um retrocesso. É preciso dizer isso às pessoas", afirmou.

Sem conseguir formular hipóteses sobre aqueles que continuam insistentemente a defender a volta do voto impresso, o ex-presidente do TSE diz que a única explicação é que sejam "sadomasoquistas".

"Nós somos felizes eleitoralmente e não sabemos disso. Até parece que, consciente ou inconscientemente, certas pessoas são masoquistas porque, como todo masoquista, são pessoas que se sentem mal quando estão bem, e se sentem bem quando estão mal. Nós estamos muito bem porque processamos eleições tão céleres quanto seguras, com autenticidade absoluta nos temos de apuração de votos", comparou.

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