Saúde
Publicado em 02/08/2022, às 10h24 Folhapress- CLÁUDIA COLLUCCI
Com mais de 1.300 casos confirmados de varíola dos macacos, o Brasil enfrenta falta de estrutura laboratorial para diagnóstico rápido, baixa capacidade de identificação de casos pelos serviços de vigilância, capacitação insuficiente dos profissionais de saúde e dificuldades de isolamento de contatos em tempo oportuno.
A análise é de um grupo de epidemiologistas de seis instituições de ensino, entre as quais a Fiocruz e a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva), e foi publicado nesta segunda-feira (1º) em artigo preprint na Revista Brasileira de Epidemiologia.
Segundo os pesquisadores, a exemplo do que ocorreu durante pandemia de Covid-19, o país tem falhado e demonstra, mais uma vez, fragilidade no enfrentamento da emergência sanitária. Para eles, a negligência e a lentidão para a resposta à doença são preocupantes.
Eles apontam, por exemplo que, quase um mês após o primeiro caso de monkeypox diagnosticado, o país ainda não tem um sistema de informação transparente, ágil e apto para registro dos casos confirmados e suspeitos, considerando aspectos clínicos, epidemiológicos e sociodemográficos.
"A partir do momento que você não tem dados, não consegue gerar informação de qualidade para comunicar a população e os profissionais de saúde e guiar as ações e políticas de saúde", explica Alexandra Boing, epidemiologista da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), membro da comissão de epidemiologia da Abrasco e uma das autoras do artigo.
Também há poucos laboratórios de referência para o diagnóstico. Hoje, o país conta com apenas quatro locais para análise de amostras suspeitas de varíola dos macacos. Todos ficam no Sudeste. Isso dificulta a identificação dos casos em tempo oportuno, sobretudo em locais historicamente negligenciados, como a região Norte.
Os pesquisadores elencam uma série de ações urgentes que deveriam ser adotadas pelo Ministério da Saúde, a começar com a definição de protocolos clínicos e de diretrizes terapêuticas na rede de atenção à saúde.
A capacitação dos profissionais da atenção primária, porta de entrada do SUS, e dos ambulatórios na prevenção, diagnóstico e tratamento, além de ações de comunicação de combate ao estigma, deveriam estar também entre as ações prioritárias do ministério, segundo os epidemiologistas.
No último fim de semana, a Prefeitura de Santo André, na Grande São Paulo, afastou um médico suspeito de homofobia contra um paciente que tinha sintomas de varíola dos macacos.
"A gente já viveu essa inação durante a pandemia de Covid-19 e estamos vendo isso de novo agora com a monkeypox. As ações precisam ser guiadas, com base na ciência, atuando para evitar que as pessoas fiquem doentes, quebrar a cadeia de transmissão", afirma.
Segundo Boing, as informações precisam circular com mais rapidez para que, a partir da identificação precoce de casos, seja feito o rastreamento de contatos. "Mas hoje não existe uma articulação nacional, uma definição central de como agir no enfrentamento de mais essa emergência pública."Os pesquisadores também pedem celeridade na compra das vacinas e de antivirais contra a varíola dos macacos. "O que foi anunciado é um número muito pequeno. Não tem estratégia de curto, médio e longo prazo. E essa demora de definição de protocolo faz com que a gente perca o controle do enfrentamento."
Nesta segunda (1º), uma nota técnica elaborada pelo Ministério da Saúde recomendou que grávidas, puérperas e lactantes mantenham o uso de máscaras devido ao surto de varíola dos macacos, se afastem de pessoas com sintomas da doença e usem preservativo em todas as relações sexuais.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também disse que o Brasil vai receber o antiviral tecovirimat, mas, em um primeiro momento, serão para apenas 50 pacientes. Na semana passada, ele também anunciou que as primeiras doses da vacina contra a doença podem chegar ao país em setembro.
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