Denúncia

Maternidade Albert Sabin: Mães denunciam ter perdido bebês antes de parto por negligência

Arquivo pessoal
Outras denúncias contra a maternidade foram feitas por acompanhantes de pacientes  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal
Sanny Santana

por Sanny Santana

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Publicado em 19/07/2023, às 17h30


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Até a manhã desta quarta-feira (19), Ailla Noronha, de 26 anos, era a única denunciante que acusava a Maternidade Albert Sabin, localizada no bairro de Cajazeiras, em Salvador, de negligência. A equipe do BNews, no entanto, foi à unidade de saúde, onde outras reclamações foram descobertas, incluindo a de outra mãe, que também perdeu seu bebê na maternidade.

O BNews conversou com Igor Michel, marido de Daiane Lopes de Jesus, de 41 anos. O homem denuncia ter perdido seu oitavo filho por irresponsabilidade da maternidade, que teria impedido o parto no momento correto, causando a morte do bebê.

"Ela tinha médico aqui [na maternidade] no dia 12, a gente veio, passamos pelo médico, fizemos ultrassom e a barriga dela contraiu. Ele, então, disse que era para Daiane ir para a emergência porque ela teria o bebê naquele dia. Chegando na emergência daqui, fizeram o teste de dilatação, mas disseram que não podia internar", afirma o homem, explicando que os profissionais afirmaram que a mulher não tinha dilatação suficiente para realizar o parto. Dessa forma, o casal voltou para casa.

Daiane voltou a sentir fortes dores na madrugada de terça-feira (18). "Ela ficou mais de 2h esperando. Quando ela foi fazer exame, não tinha mais o batimento da menina. Por que não fizeram a cesárea para tirar a neném no dia 12?", questiona o homem.

O marido da grávida chegou a falar com o médico, responsável pela ultrassom, sobre o ocorrido. Segundo ele, o profissional reforçou a necessidade de ter realizado o parto no dia 12 de julho.

Daiane passou por mais de três horas de cirurgia para a retirada da criança morta, além do ligamento das trompas, para impossibilitar outra gravidez.

Igor ainda denunciou a situação da maternidade que, segundo ele, estava lotada. O homem chegou a comparar o local com um matadouro.

"Se você entrar, fica com pena do pessoal que está aqui dentro. Pessoal deitado na cadeira, outras [grávidas] em pé, gemendo. É muita dor. Sou pai e não aguento ver isso", declarou.

"Eu gritei ontem e a assistente social disse para eu ter calma. Fiquei me perguntando, como ela manda um pai, que perdeu o filho, ter calma? Aqui, na verdade, está parecendo um matadouro. Estão matando os seres humanos aos poucos", desabafou.

Igor também contou que está sendo dificultoso ter assistência para realizar o sepultamento da criança. "Não sei que dia a menina vai ser enterrada, não sei de nada aqui. Estou perdido", reclamou.

Daiane segue internada no local.

Outro caso

O BNews, inicialmente, foi à maternidade para saber um pouco mais sobre o caso de Ailla Noronha, de 26 anos. Ela e seu companheiro, William Samuel, denunciam a maternidade após a jovem também perder seu bebê antes mesmo do parto, quando a criança ainda estava em sua barriga.

Segundo o marido de Ailla, que foi entrevistado pelo BNews, o casal foi à maternidade na última semana, após a jovem sentir fortes dores. Chegando lá, ela foi orientada a caminhar para aumentar a dilatação. A gestante foi mandada para casa por não estar com dilatação vaginal suficiente, assim como ocorreu com Daiane.

A situação, de acordo com ele, se repetiu por quatro vezes, até que Ailla foi internada na tarde da segunda-feira (17) para, enfim, dar à luz a sua filha. Os médicos realizaram os procedimentos de escuta e exame de toque, e insistiram em um parto vaginal, mesmo a jovem desejando uma cesárea.

Eles iniciaram a indução, mas, segundo a família da jovem, Ailla ficou desassistida durante uma troca de plantão, em meio à madrugada. A falta de assistência teria causado a morte da bebê.

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Ailla ainda precisou esperar por nove horas para ser submetida ao processo de curetagem, ou seja, para que o bebê fosse retirado do seu corpo. A vítima segue internada na maternidade e seu estado de saúde é estável.

Outras denúncias

Em contato com outros acompanhantes de pacientes e visitantes, foram reveladas outras denúncias ao BNews. Uma delas foi a falta de lençóis para algumas pacientes, que precisaram levar o material de casa para o hospital. Segundo uma visitante, que preferiu não se identificar, uma assistente social alegou que a falta de lençóis seria "culpa da lavanderia".

Além disso, grávidas estariam dormindo em bancos e sentadas em cadeiras, e os remédios concedidos. Psicólogos e assistente social para dar suporte às grávidas que perderam seus bebês demoraram horas para chegar. No caso de Daiane, só chegou no dia seguinte. 

O BNews entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (SESAB), que até a publicação da matéria, não se pronunciou.

Classificação Indicativa: Livre

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