Feriado / Dia Nacional da Consciência Negra

“Mentalidades vivem histórico da colonização e escravização”, diz cientista social sobre racismo em escolas baianas

Suami Dias/ Ascom GovBa
Ela traz o racismo estrutural e a desigualdade como principais causadores destas situações   |   Bnews - Divulgação Suami Dias/ Ascom GovBa

Publicado em 20/11/2021, às 11h05   Catarina Alcantara


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Às vésperas da comemoração do dia da consciência negra, a cidade de Salvador, uma das mais negras do país, teve uma série de ataques racistas ligados às suas instituições de ensino. 


Para entendermos melhor todo o contexto dos conflitos, a cientista de Políticas Sociais e Cidadania e Doutoranda em Ciências da Educação, Saionara Bonfim Santos, 43, explica que devemos perceber a raiz de tudo: a desigualdade escolar e o racismo estrutural. Conforme ela, a cor da pele somada a renda e a expectativa de vida dos estudantes causa um abismo enorme entre eles.

“Apesar de todos os avanços legais e pautas antirracistas nas pesquisas e no debate público,  as mentalidades ainda vivem séculos da colonização, por conta do nosso histórico da colonização e escravização por mais de 3 séculos, a herança colonialista e escravagista racializada ainda atravessa as nossas relações sociais...Aprendemos desde a Infância sobre lugares sociais racializados, naturalizados no imaginário coletivo como quem pode morrer e quem pode matar, qual a cor e origem social de quem é pobre e quem tem posses. Os corpos são marcados neste país de uma elite perversa e cruel”, explicou. 

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Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), os indicadores de escolaridade da população com recorte de raça, apontam a evidente desvantagem da população negra ou parda perante as demais. O acesso à educação apresenta índices diferentes, conforme o grupo racial: 53% das crianças pretas ou pardas de 0 a 5 anos de idade frequentavam a creche ou escola em 2018, contra 55,8% das crianças brancas.


Entre a população preta ou parda, a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais é de 9,1%, enquanto o mesmo indicador é de 3,9% na população branca. Entre a população negra ou parda, a proporção de pessoas de 25 anos ou mais com pelo menos o Ensino Médio completo é de 40,3%. Já entre os brancos, o índice é de 55,8%.
A proporção da população preta ou parda entre 18 e 24 anos com menos de 11 anos de estudo e que não frequentavam a escola em 2018 era de 28,8%, frente 17,4% de brancos na mesma situação.


Durante a entrevista concedida a equipe do Bnews, Saionara explana suas observações sobre o caso de racismo que ocorreu com uma aluna negra e filha de um funcionário de uma insituição.  Ela explica que todo sistema de ensino formal em especial as escolas tem a responsabilidade de combater todo tipo de discriminação, seja racial, de gênero, classe, geração e que segundo a Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Plano Nacional da Educação, da BNCC e de todos os dispositivos de combate à todo tipo de discriminação por cor, raça, classe, gênero. “Vivemos num estado democrático de direito (ainda não pleno), porque nossas leis vigentes condenam qualquer tipo de prática preconceituosa, mas sobretudo o ambiente escolar deve educar para a diversidade cultural e para um projeto de sociedade mais justo e equânime para todas as pessoas.” 


Com relação a suspensão das atividades envolvendo o livro Olhos D’água em outra escola, ela afirma: "A professora foi ameaçada por estudantes e familiares, além de registrar que dos 5 professores que trabalharam com o livro "Olhos D'Água” apenas ela foi afastada das aulas. No nosso país racismo é crime, por isso toda empresa que pratica ou é conivente com práticas racistas deve ser acionada juridicamente.”


Os números e as pesquisas só comprovam o que os cientistas políticos e sociais analisam e temem todos os dias. Eles escancaram um problema que a essa altura já deveria ter sido sanado, na verdade erradicado. Mas como acontece o contrário, a condição permeia ainda que inconscientemente, e de certa forma, mesmo com toda evolução de debates e pensamentos a respeito do tema ainda vem tomando conta das ações e estruturas de diferentes instituições da sociedade, invadindo consequentemente o ambiente escolar.

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