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Chefe de jornalismo da Globo citado em denúncia contra delegado corrupto é demitido

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O nome do profissional aparece em uma investigação do Ministério Público  |   Bnews - Divulgação Reprodução/TV Globo

Publicado em 17/05/2022, às 23h34   Redação BNews


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O chefe de jornalismo investigativo da TV Globo no Rio de Janeiro, Tyndaro Menezes foi demitido nesta terça-feira (17). O nome do profissional aparece em uma investigação do Ministério Público envolvendo Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, e o delegado Ângelo Ribeiro, afastado da Polícia Civil na semana passada acusado de receber propina do empresário para encobrir inquéritos tributários. Os dois são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. As informações são do site Notícias da TV.

De acordo com o portal, a emissora disse por meio de nota que não comenta questões relacionadas ao compliance e reforçou seu Código de Ética.

Tyndaro estava na TV Globo desde 1992. Ele foi citado sete vezes no documento apresentado pelo Ministério Público contra Ribeiro. Na denúncia, o ex-funcionário da Globo teria intermediado um negócio suspeito na área da saúde feito pelo delegado.

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Os documentos afirmam que há tratativas sobre valores a receber e que o jornalista apresentou pessoas para o delegado, que combinou comissões sobre a compra de insumos para um hospital do Rio. Segundo o site, Tyndaro não foi denunciado, mas é descrito como alguém próximo a Ribeiro, que passava informações privilegiadas para o Rei Arthur sobre movimentações e operações policiais.

Apesar do Ministério Púbico não especificar se o ex-chefe da Globo poderia ser uma das fontes de Ribeiro, o nome dele aparece na investigação quando a procuradora descreve os negócios de Ângelo Ribeiro no Rio de Janeiro.

Ainda de acordo com o Notícias da TV, Menezes teria tido diversas conversas e trocado mensagens com o funcionário público, em que se chamavam de "amigos". Eles também são sócios em negócios. A Globo não permite esse tipo de relação, que fere seu Código de Ética.

"As negociações suspeitas propostas pelos delegados ficam ainda mais evidentes, tendo eles se referido, inclusive, ao jornalista Tyndaro Menezes, ligado à Rede Globo. No contexto em que falam sobre compra de insumos médicos e sobre 'SC' (Sérgio Côrtes) e família serem atravessadores de uma empresa de São Paulo, Ângelo fala a Victor que Tyndaro não integraria nenhuma empresa, mas, ainda assim, 'seria prestigiado'", diz trecho da denúncia.

No documento ao qual o site teve acesso diz que em uma troca de e-mails, Ribeiro afirma que vai dividir 1% de comissão de uma nota que retirou mediante acordo de comissão de um produto superfaturado. "Eu vou dividir esse valor com Ty, claro", comentou o acusado, em momento que mostra intimidade com o jornalista.

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Tyndaro Menezes também apresentou Sérgio Pugliese, diretor da empresa Approach Comunicação, para o delegado. Ele comenta o assunto em outra troca de mensagens. "Conheci Sérgio Pugliese através de Tyndaro, claro", disse o delegado para um interlocutor do processo.

De acordo com apuração do site, a situação chegou ao compliance da Globo na semana passada. Menezes se defendeu dizendo que apenas apresentou pessoas e que não há nada de ilegal no assunto.

A Globo entendeu que a ligação de Menezes com o delegado é, no mínimo, próxima demais e que isso, por si só, já configura uma quebra dos Princípios Editoriais da emissora. O fato de ele ter sido citado por ter, supostamente, recebido dinheiro agravou a situação. A demissão foi comunicada sem direito a despedida.

O jornalista se destacou na emissora por criar técnicas de produção de reportagens que mantinham o sigilo de imagem dos repórteres. Ele foi responsável por vários furos sobre crimes no Rio de Janeiro e contra o presidente Jair Bolsonaro.

Procurada pelo site, a Globo enviou o seguinte comunicado:

"O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas".

Ainda de acordo com a reportagem, o Ministério Público confirma a citação do nome de Tyndaro Menezes na investigação, mas ressalta que o jornalista não foi denunciado como réu no processo conduzido pelo órgão, em parceria com o Gaeco (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado), contra o delegado Ângelo Ribeiro e Arthur César de Menezes Soares Filho. A reportagem não conseguiu contato com Tyndaro Menezes até a publicação deste texto.

Classificação Indicativa: Livre

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