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Direto de Itamaraju: O drama de quem viu a água da chuva levar tudo que tinha; assista

Diego Vieira/BNews
Centenas de moradores de Itamaraju perderam móveis e até suas casas  |   Bnews - Divulgação Diego Vieira/BNews

Publicado em 17/12/2021, às 14h11   Diego Vieira*


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Uma semana depois de ver os seus móveis boiando dentro da sua casa e as paredes do imóvel rachando, Aldeíde Jesus tenta agora se acostumar a uma nova realidade: viver dentro de uma escola. Moradora de Itamaraju, no extremo sul da Bahia, ela e os filhos estão entre as centenas de pessoas que estão desabrigadas após as fortes chuvas que atingiram a cidade na semana passada.

Ainda bastante abalada com o ocorrido, ela abriu as portas de sua residência para a reportagem do BNews. O imóvel fica na Rua Madeira, uma das áreas mais afetadas pela enchente, pois está localizada nas proximidades do Rio Jucuruçu que subiu durante o temporal.

Ao mesmo tempo em que mostrava os prejuízos, entre móveis perdidos e rachaduras nas paredes, Aldeíde agradecia pelo fato de a casa não ter desabado sobre ela e os filhos.

“Tudo que eu tenho está aqui. Nem minha cama presta mais. Minhas roupas estão todas no chão porque o guarda-roupa eu não posso nem mexer porque ele corre risco de cair. Eu lutei muito para conseguir essa casa e é a única coisa que eu tenho. Agradeço muito a Deus por ela não ter caído em cima de mim e dos meus filhos”, afirmou a dona de casa que ainda não sabe por quanto tempo vai ter que ficar morando na escola.

Enquanto Aldeíde relatava a sua história, a vizinha Maria Nascimento aguardava do lado de fora da residência para também mostrar a situação em que ficou a sua casa. No caso dela, praticamente todos os móveis ficaram danificados, e hoje estão expostos na porta de casa aguardando o caminhão do lixo passar para recolher.

“Perdi cama, colchão, televisão, guarda-roupas. É muito triste olhar pra tudo isso aqui na porta da minha casa. Hoje estou dormindo em um colchão doado pelos bombeiros”, disse Maria que chegou a ir para um dos abrigos instalados na cidade, mas decidiu retornar para casa.

Dona Maria Nascimento contabiliza os prejuízos

Vizinha e amiga de dona Maria, Vanilde Santos também ainda tenta calcular os prejuízos. À reportagem, ela contou que quando viu a água invadindo a sua casa, a única reação foi pegar a filha de 9 anos e sair correndo.

“Deixei a água tomar conta porque não tinha mais o que fazer. Não tinha como eu salvar nada porque aqui somos eu e minha filha. Perdi praticamente tudo e o que sobrou ficou estragado: guarda-roupa, painel, sofá, roupas. Minha filha ficou sem calcinha por três dias porque estava tudo molhado. Agora estamos aqui nas mãos de Deus”, declarou Vanilde enquanto ainda tentava arrumar os poucos móveis que ela conseguiu reaproveitar.

Dona Vanilce sentada na porta de casa

Ao contrário dela, dona Ivací Coelho não conseguiu salvar nada. Além de perder todos os seus móveis, ela corre risco de também perder a casa já que o imóvel pode desabar a qualquer momento.

“Eu perdi tudo. Não tive como salvar nada dentro de casa. A água derrubou o meu muro e depois invadiu a minha casa. Eu não estou nem conseguindo dormir porque eu estou muito preocupada. Quando eu chego aqui na minha casa e vejo as paredes tudo rachadas, o piso afundando, eu entro em desespero. Meu medo é perder um sonho tão antigo que é a minha casinha”, lamentou Ivací que no momento está morando na casa da mãe em uma rua próxima.

Assista:

A poucos metros da casa dela, o jovem Essimar Souza tentava ainda assimilar o tamanho do desastre e parecia não acreditar no que está vivendo. Assim como a vizinha, ele também perdeu todos os bens que tinha e até a roupa que estava vestido havia sido doada.

“Até a minha geladeira e meu botijão de gás eu perdi. A água veio pelos fundos da casa e levou tudo. O nível da água chegou a bater na minha cintura. É muito triste perder tudo”, disse.

No início da semana, a prefeitura de Itamaraju afirmou que a chuva destruiu, no mínimo, 150 casas, e que é calculado um prejuízo de R$ 40 a R$ 50 milhões. A cidade teve situação de emergência reconhecida pelos governos estadual e federal.

O temporal no sul da Bahia começou no dia 29 de novembro. A situação se agravou na madrugada do dia 8 deste mês, quando a Itamaraju entrou na primeira lista de situação de emergência. No mesmo dia, três pessoas de uma mesma família morreram após um deslizamento de terra derrubar a casa em que viviam.

Chuva na Bahia

Além das três mortes registradas em Itamaraju, o estado contabilizou mais nove óbitos em decorrência das chuvas, de acordo com último balanço divulgado pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado da Bahia (Sudec).

As mortes foram registradas em: Amargosa (2); Itaberaba (2); Macarani (1); Prado (1); Ruy Barbosa (1) e Jucuruçu (1).

Ao todo, 6.371 pessoas ficaram desabrigadas, outras 15.199 desalojadas por causa dos estragos causados pelos temporais. No total, 220.297 pessoas foram atingidas pela chuva e 51 localidades decretaram situação de emergência.

Na semana passada, o Governo Federal anunciou a liberação de mais R$ 5,8 milhões para diversos municípios baianos atingidos pela chuva. O recurso será liberado através do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). As portarias foram publicadas no Diário Oficial da União de segunda-feira (13).

A pasta já assinou a liberação de R$ 2.197.371,10 milhões para a cidade de Eunápolis, R$ 1.862.600 milhão para Itamarajuru, R$ 543.725 mil para Jucuruçu, R$ R$ 433.954 mil para Ibicuí, R$ 260.160,00 para Ruy Barbosa, e R$ 503.885,00 para Maragogipe. As portarias serão publicadas nesta segunda-feira (13) no Diário Oficial da União. Outros R$ 51,4 mil foram liberados para execução de ações de resposta em Itaberaba em decorrência das inundações.

*Repórter faz, direto de Itamaraju, a cobertura das chuvas que atingem o Extremo Sul da Bahia

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