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Artistas baianos presentes na festa da diretora da Vogue preferem se calar sobre polêmica

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Procurados pelo BNews, Caetano Veloso, Margareth Menezes e Márcio não quiseram se pronunciar   |   Bnews - Divulgação Reprodução / Instagram

Publicado em 12/02/2019, às 10h47   Tiago Di Araujo


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Quem acompanha artistas baianos como Caetano Veloso, Margareth Menezes e Márcio Victor, do Psirico, já deve ter visto eles em algum ato contra o preconceito, seja racial, de gênero, ou por qualquer outra causa. Mas, o histórico de resistência deu espaço para o silêncio quando o "alvo" de críticas foi a poderosa diretora da Vogue Brasil, Donata Meirelles.

Acusada de racismo depois da temática usada em sua festa de aniversário, em Salvador, no último fim de semana, que foi associada à escravidão no Brasil colonial, a empresária ganhou a defesa de algumas vozes do povo.

Vistos como defensores ferrenhos do povo negro, Caetano Veloso, Margareth Menezes e Márcio Victor parecem ter mudado o lado da defesa e optaram apenas por se calar. Todos foram procurados pela reportagem do BNews e, através das respectivas assessorias de imprensa, garantiram que não fariam nenhum posicionamento sobre o assunto, exceto o líder do Psirico em que não chegou a retornar o contato.

De forma mais explícita, Ivete Sangalo, considerada por muitos, a maior e melhor cantora da Bahia, saiu em defesa da empresária ainda durante o evento. Veveta, como é carinhosamente chamada pelos fãs, participou do segundo dia da festa de aniversário e elogiou a socialite. "O muito que eu te conheço, mesmo que a gente fique muito tempo sem se encontrar, é de uma pessoa boa, carinhosa, e eu te disse que viria cantar para você e eu vim cantar para você, porque é nessas coisas que eu acredito”, disse.

As declarações da cantora foram criticadas por internautas nas redes sociais, que esperavam da musa do Axé, um posicionamento mais enérgico. “Eu quero dizer também que o que eu estou fazendo é pensando no outro, estou pensando em você. Vim pensando em você. E o exercício de pensar no outro, embora pareça muito difícil para a gente tomar decisões, é preciso pensar no outro”, concluiu Ivete, o que na visão de muitos, foi uma alfinetada na empresária.  

No vídeo, que circula na internet, é possível ver Preta Gil ao lado de Ivete durante as declarações. A filha de Gilberto Gil, que também foi uma das atrações da festa, optou por se pronunciar através das redes sociais e apresentou um discurso em que se isentou de qualquer colocação em defesa dos que se sentiram ofendidos com o caso ao declarar que não é militante da causa.

"O racismo é uma doença perversa que atinge a sociedade. E posturas, consideradas racistas e excludentes, foram naturalizadas ao longo dos séculos. Cada vez mais podemos falar sobre isso e desmitificar o preconceito que faz parte do cotidiano. A festa dos 50 anos de Donata, amiga que amo tomou conta das redes, não só pela grandiosidade do evento, mas pela escolha do receptivo vestido com roupas de baianas. Não estava na festa, mas ao tomar conhecimento das imagens, sabia que seria polêmico. Sou Preta, no nome e na pele. E cada vez mais busco me informar e saber como posso adotar uma postura antirracista e entender novos códigos que são latentes no mundo hoje. Em momentos assim, me sinto na obrigação de chamar meu amigo ou amiga e apontar o que considero errado e convidar para a construção de um novo debate sobre o tema. Como amiga, me sinto na obrigação de fazer o alerta, mas não abandonar. Fui cantar na segunda festa de Donata com amor e afeto. Eu creio que qualquer um, ao reconhecer um erro, mesmo sem intenção, dá um grande passo para a construção de um novo olhar e compreensão sobre algo que já deveria ter sido compreendido por todos, mas que ainda hoje infelizmente não é entendido. Não é mimimi, é real, incomoda, mata e machuca. E precisamos cada vez mais de aliados para dirimir os danos causados pelo racismo. Tudo isso serve de aprendizado para todos! Não estava em silêncio, estava conversando, fazendo o que faço sempre, escutando a todos e a partir disso formando minha opinião. No meio disso, li inverdades e críticas vindas de todos os lados, enquanto nos atacarmos sem diálogo não há evolução. PS 1: não estou fazendo militância seletiva porque não sou militante, mas nesse caso acho que se encaixa mais em militância AFETIVA", escreveu ao compartilhar uma foto sua quando criança.

O racismo é uma doença perversa que atinge a sociedade. E posturas, consideradas racistas e excludentes, foram naturalizadas ao longo dos séculos. Cada vez mais podemos falar sobre isso e desmitificar o preconceito que faz parte do cotidiano. A festa dos 50 anos de Donata, amiga que amo tomou conta das redes, não só pela grandiosidade do evento, mas pela escolha do receptivo vestido com roupas de baianas. Não estava na festa, mas ao tomar conhecimento das imagens, sabia que seria polêmico. Sou Preta, no nome e na pele. E cada vez mais busco me informar e saber como posso adotar uma postura antirracista e entender novos códigos que são latentes no mundo hoje. Em momentos assim, me sinto na obrigação de chamar meu amigo ou amiga e apontar o que considero errado e convidar para a construção de um novo debate sobre o tema. Como amiga, me sinto na obrigação de fazer o alerta, mas não abandonar. Fui cantar na segunda festa de Donata com amor e afeto. Eu creio que qualquer um, ao reconhecer um erro, mesmo sem intenção, dá um grande passo para a construção de um novo olhar e compreensão sobre algo que já deveria ter sido compreendido por todos, mas que ainda hoje infelizmente não é entendido. Não é mimimi, é real, incomoda, mata e machuca. E precisamos cada vez mais de aliados para dirimir os danos causados pelo racismo. Tudo isso serve de aprendizado para todos! Não estava em silêncio, estava conversando, fazendo o que faço sempre, escutando a todos e a partir disso formando minha opinião. No meio disso, li inverdades e críticas vindas de todos os lados, enquanto nos atacarmos sem diálogo não há evolução. PS 1: não estou fazendo militância seletiva porque não sou militante, mas nesse caso acho que se encaixa mais em Militância AFETIVA

Uma publicação compartilhada por Preta Gil (@pretagil) em

Em meio à blindagem, as reações contrárias à Donata ficaram por conta mesmo do povo, que expressaram o repúdio através da sua principal arma hoje em dia, a internet. Até mesmo o Vovô do Ilê, fundador do mais respeitado bloco afro do mundo, preferiu recuar.

Após a notícia de que Donata Meirelles ficou de fora do júri da Noite da Beleza Negra, que escolherá a Deusa do Ébano do Ilê Aiyê para o Carnaval deste ano de 2019, Antônio Carlos do Santos fez questão de desvincular totalmente a decisão do polêmico episódio. Ele negou que a diretora tenha sido excluída da lista por causa da acusação de racismo e afirmou ter sido por questão de logística porque a socialite não estará em Salvador. Posicionamento sobre o caso, como representante do bloco afro, Vovô não fez nenhum.

Diante de tanta gente com receio de "bater de frente" com a poderosa, coube à Elza Soares representar os negros diante da classe artística brasileira. Em seu perfil oficial do Instagram, a cantora utilizou fotos similares a de Donata, sentada em uma espécie de trono, e destacou que "Escravizar, nem de brincadeira", escreveu na extensa legenda da publicação feita neste domingo (10).

Em meio à tanta polêmica, Donata adotou postura considerada por alguns como inteligente e optou por se defender de forma pacífica, mesmo tendo tanta gente já fazendo esse papel por ela. Através do Instagram, Donata pediu desculpas e disse que as vestimentas das mulheres "não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa".

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