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Margem do Rio Pinheiros ganhará novo parque após projeto de despoluição

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Parque Bruno Covas será inaugurado em junho, após eliminação de 86% do despejo de esgoto  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Rafael Neddermeyer - Pixabay

Publicado em 23/04/2022, às 10h46 - Atualizado às 11h25   Redação BNews



O que antes era conhecido como 'Faixa de Gaza', agora dará espaço a um novo parque. Após um projeto de despoluição, a margem do Rio Pinheiros, em São Paulo, dará espaço ao Parque Bruno Covas, na altura do Panamby. A inauguração do parque está agendada para junho, mas os interessados já podem frequentar a nova área de lazer da cidade, ainda com obras em curso.

O parque terá aproximadamente 650.000 metros quadrados, que equivale a cerca de 40% do Ibirapuera e ficará localizado na margem oeste do rio (lado do Morumbi) entre as pontes João Dias e Cidade Jardim. Segundo informações da revista Veja, o segundo trecho, até a ponte do Jaguaré, deve ficar pronto até o final do ano. Tudo está sendo feito com dinheiro privado: 58 milhões de reais, investidos por um grupo de empresários com negócios na região, que vão explorá-lo até 2025.

A ideia se tornou a viável graças ao projeto de limpeza do rio que custou 2,8 bilhões de reais, que saneou 558 mil imóveis na região do Pinheiros nos últimos dois anos e meio. Ou seja, 1,5 milhão de pessoas, o equivalente à população de Porto Alegre (RS), parou de despejar esgoto em suas águas, é evidente uma mudança na aparência e no cheiro.

A ciclovia do parque ganhou o mesmo acabamento da pista que funciona na margem oposta, recuperada nos últimos anos. Agora, a diferença é que a via que fica junto ao trem da CPTM só permite a entrada de bicicletas, o novo parque será aberto a pedestres, skatistas, patinetes e até animais domésticos — haverá uma área de 4 000 metros quadrados especialmente dedicada à diversão dos pets. De acordo com a publicação, com espaço para mais cafés, restaurantes e lojas, o parque terá cerca de cinquenta pontos comerciais, enquanto a margem oposta tem vinte.

A pista de corrida percorrerá toda a extensão da ciclofaixa. O percurso será preenchido com por parquinhos, espaços de convivência, banheiros, totens para encher garrafas d’água, pista de skate, um mirante flutuante e quadras de basquete e beach tênis. Incluirá também a futura Usina SP, projeto de cerca de 550 milhões de reais que transformará a Usina de Traição em um complexo multiuso moderno. - uma das parceiras é a JHSF, autora de projetos como o shopping Cidade Jardim e a Fazenda Boa Vista, no interior de São Paulo.

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No início, o parque terá apenas cinco pontos de acesso. Só não tem mais por conta de um empecilho: o monotrilho inacabado, em obras no lado oposto do rio. Duas entradas serão passarelas flutuantes sobre as águas — cena difícil de imaginar tempos atrás — que vão conectar as ciclovias das duas margens: uma em frente ao Parque do Povo (prevista para o segundo semestre) e outra na altura do Parque Global (para junho), megaempreendimento imobiliário próximo ao Panamby que é um dos principais patrocinadores da área verde.

"Nosso sonho é transformar o parque em algo similar ao Madrid Rio (ESP) ao longo do tempo", diz Adalberto Bueno Netto, sócio do empreendimento. A construtora vai instalar uma passarela sobre as pistas da Marginal Pinheiros naquele ponto, ligando o parque a um estacionamento privado. A quarta entrada, na ponte Laguna, já existia. A quinta ficará na Ponte João Dias. Haverá ainda três estacionamentos: o do Parque Global (150 carros), um ao lado da Usina SP (100 carros) e o outro próximo ao Projeto Pomar, na ponta sul do parque (150 carros), trecho mais arborizado do trajeto.

Assim, a partir da abertura, será possível pedalar 17 quilômetros ao longo do rio sem dar meia-volta: você acessa a ciclofaixa pela Ponte Cidade Universitária, vai até a passarela flutuante do Parque do Povo, atravessa ali para o Parque Bruno Covas, segue até a altura do Panamby, cruza a outra passarela flutuante e avança pela margem leste até a estação Jurubatuba, onde tem uma saída para a cidade.

A modificação das margens é resultado de um dueto bem estabelecido entre o poder público e a iniciativa privada. Depois de décadas de promessas não cumpridas de limpar o rio, o empresariado inicialmente hesitou em aceitar o projeto. "Até hoje, quando converso com bancos ou potenciais parceiros, eles me perguntam se a água vai ficar limpa mesmo", diz Thiago Nagib, sócio da Usina SP. Spoiler: já ficou. Não 100% limpa, claro. Mas é um "novo" rio.

Dos 2.800 litros de esgoto que caíam por segundo no Pinheiros, 2.400 foram saneados. O restante deixará de atingir o leito do rio até o final do ano, quando o projeto atingir 100% da meta (86%). Falta instalar cinco estações de tratamento, em áreas onde não era possível fazer esgoto. "Resolvemos a raiz do problema. Não é como se existisse uma barcaça limpando o rio que, se parar de trabalhar, ele volta a ficar sujo", diz Marcos Penido, secretário de Infraestrutura e Meio Ambiente do estado. "Demos uma 'vacina' para o Rio Pinheiros", ele completa, em alusão a outra bandeira da gestão de João Doria e Rodrigo Garcia (PSDB). Dezenas de biguás, garças e outras aves viraram habitués do manancial.

Com o rio renovado, o dinheiro privado apareceu. A JHSF se tornou sócia de Nagib na Usina SP. Os primeiros testes com público estão previstos para o segundo semestre de 2023. O espaço terá restaurantes, lojas e uma área de lazer flutuante.

O parque — em si uma iniciativa privada — já tem patrocinadores como Santander, Heineken, Votorantim, Sabesp, Caloi e Strava. "Ele demandou mais investimento do que a ciclovia no lado da CPTM, onde foram gastos 30 milhões de reais, porque ali o asfalto para as bicicletas já estava pronto. A expectativa, no momento, é de apenas recuperar o dinheiro gasto", diz Michel Farah, que administra a ciclovia leste e é sócio do consórcio do novo parque. A experiência mostra que, assim como a infraestrutura pública atrai o dinheiro, o dinheiro atrai os frequentadores. Antes da nova gestão, iniciada em 2020, a ciclovia recebia 17 000 pessoas por mês; agora, são 160 000.

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De acordo com os empresários do parque, o fluxo se inverteu: agora são eles que recebem o assédio de interessados em participar da empreitada. O que dá asas à imaginação do grupo — e, de fato, é difícil calcular o potencial de um rio agradável na maior cidade da América Latina. "Temos planos de fazer uma piscina próxima à Ponte do Morumbi. No futuro, seria possível até implementar um 'Uber barco' no rio", diz Daniela Amarante, arquiteta responsável pelo projeto.

"No trecho em frente ao Parque Global, a ciclovia foi afastada do curso d’água, para permitir um deque com restaurantes e cafés", ela explica. Entre os sócios do empreendimento imobiliário, a ideia já é chamada de "Puerto Madeiro paulistano", em referência à região turística de Buenos Aires.

A inauguração do Bruno Covas é uma das principais apostas da gestão estadual para acelerar a candidatura do governador Rodrigo Garcia, atualmente com 5% nas pesquisas. De certa forma, o parque torna visível as obras de saneamento dos últimos anos, um investimento que carrega a pecha de não render votos justamente por acontecer longe dos olhos do eleitorado. Na campanha, Garcia prometerá replicar o projeto no Tietê. "Será um desafio quatro vezes maior em termos de saneamento", diz Penido, confiante em que tucanos também se beneficiarão do novo hábitat do rio.

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