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Caso Sara Freitas: Defesa de motorista pede anulação do júri popular e afirma que "ele não foi o autor" do crime

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Advogado de Gideão Duarte de Lima contou que ele se mostrou comovido durante o interrogatório.  |   Bnews - Divulgação Reprodução
Adelia Felix

por Adelia Felix

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Publicado em 16/04/2025, às 12h07 - Atualizado às 12h18



A defesa de Gideão Duarte de Lima, motorista por aplicativo condenado a 20 anos e 4 meses de prisão pelo assassinato da cantora gospel Sara Freitas, informou ao BNEWS que já recorreu da decisão do Tribunal do Júri. Ele é acusado de levar a vítima para o local de execução.

O motorista é representado pelos advogados Ivan Jezler e Douglas Ferreira. O julgamento aconteceu na última terça-feira (15), no Fórum Desembargador Gerson Pereira dos Santos, em Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador.

De acordo com Jezler, o pedido de anulação do julgamento já foi apresentado. A defesa alega irregularidades durante o Júri, como o uso de documentos e materiais que não estavam anexados ao processo. “O Ministério Público utilizou no julgamento um documento que não estava nos autos, mencionou uma matéria jornalística e apresentou a gravação de um vídeo editado de uma suposta acareação”, afirmou.

Condenação parcial e expectativa de reversão
Apesar da condenação, o advogado destaca que a decisão não representou uma derrota completa para a defesa. “Duas das qualificadoras foram afastadas: o feminicídio e o motivo torpe. Perdemos a tese da coação moral irresistível por apenas um voto — foi quatro a três. Conseguimos também o reconhecimento da menor participação dele, o que reduziu a pena. Se não fosse isso, ele poderia ter pego mais de 30 anos”, explicou.

Ivan Jezler também apontou a influência da repercussão do caso na condenação. “O que pesou foi a comoção. Ninguém nega que o crime foi bárbaro, mas ele não foi o autor, nem concorreu para o fato”, disse. A defesa acredita que o placar apertado do Júri e os elementos constantes nos autos fortalecem as chances de sucesso no recurso. “Estamos otimistas”, afirmou.

Desmembramento do processo
Enquanto Gideão foi julgado, os demais acusados — entre eles o marido da vítima, Ederlan Mariano — ainda aguardam julgamento. Jezler explicou que o processo foi desmembrado porque os outros réus recorreram da decisão de pronúncia. “Gideão não recorreu, então foi a júri antes. Mas acreditamos que os próximos julgamentos podem trazer elementos que reforcem nossa tese de defesa”, completou.

Arrependimento e rotina na prisão
Sobre o comportamento de Gideão, o advogado contou que ele se mostrou comovido durante o interrogatório. “Ele demonstrou solidariedade à dor da família de Sara e ao que aconteceu, embora acredite que não tenha concorrido para o crime. Segundo a defesa, ele foi coagido moralmente de forma irresistível a estar no local”, reforçou Jezler.

O motorista está preso há mais de 16 meses. “Ele estava na cadeia pública e agora, com a condenação, será transferido para o presídio Lemos de Brito. Só agora poderá começar a trabalhar e estudar dentro da unidade prisional”, relatou.

O caso

Sara Freitas desapareceu em 24 de outubro de 2023 após sair de casa, no bairro de Valéria, em Salvador, rumo a uma reunião religiosa em Dias D’Ávila. Quatro dias depois, em 27 de outubro, seu corpo foi encontrado às margens da rodovia BA-093. As investigações indicam que ela foi atraída para uma emboscada arquitetada pelo próprio marido.

A Justiça determinou que todos os envolvidos no assassinato deveriam ser julgados por Júri Popular. No entanto, os demais acusados — Ederlan Santos Mariano (esposo de Sara), Weslen Pablo Correia de Jesus (o "Bispo Zadoque") e Victor Gabriel Oliveira Neves — recorreram da decisão e aguardam definição de nova data para julgamento. Todos seguem presos no Complexo Penal da Mata Escura, em Salvador.

A família pediu à imprensa que a artista não seja mais chamada de "Sara Mariano", para desvincular o nome do marido

Os acusados

  • Ederlan Santos Mariano: marido da vítima, apontado como o mandante do assassinato. Teria oferecido R$ 2 mil pela execução de Sara. Segundo familiares, ele era agressivo e forçava relações com a esposa. Foi o primeiro a ser preso, em 28 de outubro de 2023.
  • Gideão Duarte de Lima: motorista por aplicativo de confiança da cantora. Levou Sara ao encontro dos executores e os transportou novamente após o crime. Também teria retornado ao local com os comparsas para tentar queimar o corpo da vítima. Recebeu R$ 400.
  • Victor Gabriel de Oliveira Neves: segurou a cantora para que fosse esfaqueada por Weslen. Recebeu R$ 500 e também participou da ocultação do cadáver. Foi preso em 15 de novembro de 2023, em Camaçari (RMS).
  • Weslen Pablo Correia de Jesus (Bispo Zadoque): executor do crime. Esfaqueou Sara e participou da ocultação do corpo. Também mantinha proximidade com a vítima em igrejas evangélicas. Foi preso em 14 de novembro. Recebeu R$ 900.
  • "Cantor Davi Oliveira": não participou diretamente do crime, mas, segundo os demais acusados, sabia do plano. Teria recebido R$ 200 como "cortesia". A polícia ainda não informou se ele será formalmente indiciado.

A mãe de Sara revelou que a filha planejava sair de casa e teria algo importante para contar à família pouco antes de desaparecer.

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