Justiça

YouTube tira do ar vídeo de Bolsonaro por violar regra sobre fraude eleitoral

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Desde março, vídeos com alegações falsas sobre eleições de 2018 podem ser removidos pelo YouTube  |   Bnews - Divulgação Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

Publicado em 15/04/2022, às 07h40   Renata Galf / Folhapress


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O YouTube removeu de sua plataforma, nesta quarta-feira (13), um vídeo do presidente Jair Bolsonaro (PL) que, segundo a empresa, violava sua política de integridade eleitoral.

De acordo com essa política, vídeos que contenham alegações falsas de fraudes, erros ou problemas técnicos na eleição de 2018 são passíveis de remoção.

A gravação excluída era de uma entrevista do presidente à Rádio Jovem Pan de Maringá, transmitida no dia 12 de agosto de 2021.

Concedida dois dias após a PEC do voto impresso ter sido rejeitada pelo plenário da Câmara dos Deputados, a entrevista traz, além de ataques de Bolsonaro a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal), também questionamentos sobre a lisura das eleições de 2018.

Na entrevista, que continua disponível no Facebook, o presidente alegou que havia várias suspeitas de fraudes relacionadas às eleições de 2018.

"Até há pouco tempo estava dessa forma. E, daqui pra frente, como vai ser? As suspeitas, as denúncias de fraudes de pessoas do povo que diz que apertavam o botão em seu candidato e aparecia outra fotografia estão aos montões nas redes sociais", disse.

Bolsonaro também citou a invasão que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sofreu em 2018 e que é investigada pela Polícia Federal, fazendo alegações de que o hacker teria sido contratado por outro grupo que queria ganhar as eleições. "Não tenho provas, vou deixar bem claro que não tenho provas. Ouvi dizer, há alguns meses ouvi falar que havia se acertado que alguém ia desviar 12 milhões de votos meus."​

As informações sobre o inquérito que corria sob sigilo tinham sido divulgadas por Bolsonaro nas redes sociais e em entrevista no início daquele mês. Especialistas entrevistados pela Folha à época afirmaram que, apesar da invasão, o inquérito não concluía que houve adulteração dos resultados da eleição. ​

A nova regra do Youtube foi anunciada em março deste ano e vale retroativamente. Conforme mostrou a Folha, antes, a proibição de conteúdo com afirmações falsas de fraude generalizada após resultados eleitorais finais serem oficialmente certificados valia apenas para eleições presidenciais passadas dos EUA e as federais alemãs de 2021.

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Na ocasião, o YouTube também atualizou a política que proíbe conteúdo que possa levar à supressão de votos. Anteriormente, as normas eram muito focadas nos Estados Unidos.

Guilherme Felitti, da consultoria Novelo Data, apontou a remoção do vídeo em seu perfil em rede social. A informação foi confirmada à Folha pelo YouTube.

Em nota, a empresa afirmou que tem "elaborado um sólido conjunto de políticas e sistemas —incluindo a Política de Integridade Eleitoral e Supressão de Eleitores, atualizada recentemente— para dar visibilidade a conteúdo confiável, reduzir a disseminação de informações enganosas e permitindo, ao mesmo tempo, a realização do debate político".

No caso de remoção de vídeos que já estavam publicados, a plataforma não aplica penalidades. Apenas quem postar vídeos com o teor proibido a partir da nova regra, com um período de aprendizagem de um mês, passará a sofrer as sanções da plataforma (strikes) por postagens sobre fraude eleitoral. Quem receber três strikes num período de 90 dias terá o canal excluído.

Anteriormente, o presidente já teve vídeos removidos pelo YouTube por violar políticas da plataforma relacionadas ao coronavírus.

Em outubro de 2021, após remover uma live com a afirmação falsa relacionando vacina ao risco de contrair Covid-19, a plataforma suspendeu por uma semana o canal de Jair Bolsonaro.

Como mostrou a Folha em março, o YouTube mantinha no ar pelo menos 1.701 vídeos com ataques ao sistema eleitoral brasileiro e acusações infundadas de fraude nas urnas.

Juntos, os vídeos acumulavam, até então, 67,7 milhões de visualizações e 368.955 comentários, segundo levantamento do pesquisador Marcelo Alves, professor do Departamento de Comunicação da PUC do Rio.

De acordo com o estudo, o canal com maior número de visualizações de vídeos com ameaças à integridade eleitoral é o Pingos nos Is, com 15,7 milhões de visualizações, seguido de Folha Política (12,6 milhões), Jovem Pan News (2,5 milhões), Foco do Brasil (2,3 milhões) e Bolsonaro TV (2,2 milhões).

Procurado na ocasião, o YouTube afirmou que não teve acesso prévio à pesquisa e, portanto, não poderia comentar sobre os resultados.

Tanto Bolsonaro quanto seus aliados protagonizam inúmeros vídeos com afirmações não comprovadas de que houve fraudes eleitorais e de que a urna eletrônica teria sido adulterada em 2018.

A desinformação sobre a lisura das eleições é uma grande preocupação da Justiça Eleitoral, que tem celebrado acordos com as diferentes plataformas e redes sociais. Cada empresa possui suas próprias regras de remoção e moderação.

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