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BNews Novembro Negro: Racismo religioso está longe de ter fim, afirma mãe de santo

Elói Corrêa/GOVBA
Promotora do MP-BA, a maioria dos tramites no Ministério Público são direcionados ao candomblé   |   Bnews - Divulgação Elói Corrêa/GOVBA

Publicado em 23/11/2021, às 06h31   Rafael Albuquerque e Beatriz Araújo


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“Exu matou um pássaro ontem com uma pedra que só jogou hoje”, assim diz o ditado iorubá que melhor resume a luta do povo de santo contra a marginalização social das religiões de matriz africana. Apesar de iniciada ainda no período de colonização do Brasil, a batalha desses religiosos contra a repressão às suas crenças está longe de ter fim. De acordo com Mãe Jaciara, ialorixá do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum, em Salvador, os ataques ao candomblé não param. “Esse momento de pandemia, de afastamento social, foi onde o racismo religioso cresceu mais”, afirmou, em entrevista ao BNews

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A filha de Mãe Gilda, fundadora do terreiro localizado no bairro de Itapuã, lembra que há pouco mais de um ano uma homenagem à sua mãe foi alvo de mais um ataque a religiões de matriz africana na capital baiana. “Eu trago até um exemplo que é o busto de Mãe Gilda, que foi violado em plena pandemia. Um homem vai lá, quebra tudo, a gente denuncia, e aí a gente sofre outro momento, que é a falta de qualificações desses espaços que nos acolhem”, conta Jaciara Ribeiro dos Santos. 

Para a ialorixá, Salvador registra ainda uma carência de instituições competentes para atuar no combate ao racismo religioso. “Tem delegacia que entende que isso é um surto, ou é briga de vizinhos, então além de você sofrer o racismo que adoece a nossa comunidade, a gente ainda passa por um outro momento mais difícil, que é não poder realmente efetivar a denúncia como racismo”, explica.  

Na luta contra a intolerância religiosa, Mãe Jaciara lembra a importância de denunciar os ataques às religiões de matriz africana. “Eu tento passar tanto para a minha comunidade, e até aos meus filhos de santo, é a questão da autoestima, de você realmente assumir a sua religiosidade, e denunciar. É importante denunciar porque se não a gente não vai ter como colher tantos dados”, aponta. 

“A gente tenta fortalecer todos os projetos que venham fazer com que esse ódio religioso tenha que ser cessado. Algo também que eu faço é diálogo inter-religioso, que eu faço parte de grupos que dialogam sobre isso, com padre, com mulçumanos, com espíritas”, acrescentou a atual responsável do Terreiro Ilê Axé Abassá de Ogum.  

Apesar de tanto esforço em prol do respeito que lhe é direito, Mãe Jaciara relata que a sua batalha contra a repressão ao candomblé é constante. “Minha luta é diária. Eu acho que todo dia ao sair na rua, vestida de Ialorixá, eu estou reafirmando a minha religiosidade”, concluiu a ialorixá.

MP-BA atua contra o racismo religioso

Quem também reforça a importância de combater o racismo religioso é a promotora Sara Gama, titular da Promotoria de Racismo e Intolerância Religiosa do Ministério Público da Bahia (MP-BA), que relembra ainda a existência de leis contra esse tipo de crime. 

“Tanto o respeito às pessoas na questão da etnia está na Constituição Federal, quanto as práticas religiosas. Você tem direito de praticar o que bem entender. Na Bahia, temos uma cultura muito forte voltada para as religiões de matriz africana, em razão da própria história da Bahia, da construção social de nossa sociedade, que passa por todas essas nuances”, iniciou, em entrevista ao BNews.

“Nosso progresso veio pelas mãos dessas pessoas, de forma subjugada pela escravidão. As religiões de matriz africana têm todo direito de serem praticadas. Seus adeptos têm todo direito de ostentá-las, inclusive. Uma vez soube de uma pessoa que trajava as vestimentas dos adeptos ao candomblé e foi impedida de entrar na escola, isso é completamente ilegal”, considerou Sara Gama

Ainda de acordo com a promotora, a maioria dos tramites no MP são direcionados ao candomblé. “Há um preconceito muito grande e isso deve ser combatido”, afirmou. As pessoas precisam entender que não vamos evoluir enquanto não houver respeito pelo outro. Temos que dar passos largos pra a evolução do país e isso passa por essa mudança de comportamento e pela aceitação ao outro”, orientou a titular. 

“Você não precisa gostar e conviver se não quiser, mas tem que respeitar. Se não for de forma natural, vai ser através da lei”, finalizou.

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