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Após Pelourinho esvaziar e comerciantes relatarem ameaças de criminosos, prefeitura toma atitude

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Pelourinho vem sendo tomado pela violência, cometida principalmente por menores de idade  |   Bnews - Divulgação Joilson César/BNews
Sanny Santana

por Sanny Santana

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Publicado em 27/04/2023, às 18h08


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A violência no Pelourinho, uma das localidades mais turísticas de Salvador, vem sendo foco de reportagens nos últimos dias. Apesar dos constantes furtos e roubos ocorridos há tempos na região do Centro Histórico, e discutidos há anos, a agressão contra turistas romenos, no último sábado (22), se tornou o pivô do debate. 

Ao andar pelas ruas do Pelourinho não é incomum encontrar diversos adolescentes rondando a área à procura de uma nova vítima. Os romenos, por exemplo, foram vítimas de garotos de 16 e 17 anos, que deixaram rastros de sangue ao entrar em luta corporal com os turistas. Um dos adolescentes, inclusive, já chegou a ser apreendido anteriormente por furtos e roubos, além de ser suspeito de integrar um grupo responsável por um homicídio ocorrido na Praça Castro Alves, no Carnaval deste ano. 

O BNews foi ao Pelourinho para entender um pouco melhor a situação dos vendedores, empresários e baianas de acarajé. Várias pessoas não quiseram se identificar durante a entrevista ou sequer quiseram falar sobre a criminalidade no local. Isso porque, segundo eles, comerciantes vêm sendo ameaçados pelos criminosos que andam pelo Pelourinho. Com o objetivo de afastar o reforço policial na região, os bandidos estariam ordenando que os moradores e vendedores não se manifestassem sobre a violência no local. 

"Ninguém quer se expor em uma situação dessa (...) A violência está demais aqui. A gente sai 21h, 22h, e está sem movimento por causa dos constantes assaltos. Esse ano está pior que os outros", declarou uma vendedora, que trabalha em duas lojas, e preferiu não se identificar. 

"O prefeito e o governador têm que tomar uma decisão sobre o assunto porque aqui está entregue às traças. Os próprios policiais lá embaixo ficam dizendo aos turistas que não é para vir [para o Pelourinho] porque está perigoso", completa.

Muito além da curtição dos turistas, o violento Centro Histórico vem afetando, principalmente, os comerciantes, que veem suas vendas caírem com a cada vez mais baixa chegada de novos compradores. 

"Estou sozinha na loja porque não tem condições de contratar outro funcionário. Tem loja que fechou e outras que só contratam gente em tempo de alta estação, depois mandam embora", revelou. 

Com medo dos assaltos que, inclusive, já ocorreu em uma das lojas a qual ela trabalha, a funcionária precisa Uber todos os dias para ir para casa, afinal, termina seu expediente às 21h, e diz não ter coragem de encarar as ruas vazias do Centro Histórico. 

Sem querer ser identificado, o dono de uma loja de lembrancinhas de Salvador declarou viver a pior época desde que chegou ao Pelourinho, há 27 anos. 

"Pessoal toma correntes na frente das lojas. Estamos sem saber o que fazer, os comerciantes já conhecem os bandidos e os policiais também", declarou à reportagem do BNews. 

"O turista que é roubado e espancado, vai voltar quando? Como que pagamos o aluguel? Teve um dia aqui que só vendi 10 reais", desabafou. 

Também dona de loja, no seu caso, de roupas, Alcione Almeida, de 47 anos, confirmou o que o colega relatou, e declarou estar havendo muito mais roubos do que costumava acontecer no local. "A violência está demais, tem assalto em frente à loja, a gente fica à mercê da bandidagem. Pedimos socorro porque às vezes os turistas vêm e são assaltados", afirmou, acrescentando que a partir das 17h o espaço fica bastante deserto, trazendo ainda mais medo aos comerciantes.  

Outra comerciante, que preferiu falar em anonimato, comentou sobre a pouca idade dos que cometem os furtos, e os esquemas realizados por eles. "Não respeitam mais os policiais, eles ficam andando por aqui, e são jovens, têm 13 e 14 anos", declara. 

"Os policiais ficam por aqui, mas os meninos são espertos, esperam troca de turno, horário de almoço, olham onde os policiais mais ficam", revela. 

Nesta semana, Érico Brás, proprietário do famoso restaurante 'Oh Paí, Oh', localizado no Pelourinho, protestou, através de um vídeo, sua insatisfação quanto a violência no Centro Histórico. A filmagem surge dias após o segurança do seu estabelecimento ser assassinado no bairro da Mouraria.  

O homicídio aconteceu no último dia 12 de abril. Alex José da Silva, de 40 anos, levava seu filho para a escola quando foi surpreendido por um criminoso, que o executou com 10 tiros. Apesar de alguns comerciantes relatarem, anonimamente ao BNews, que a motivação da morte tem relação com o fato de Alex ter relatado alguns crimes no Pelourinho, a história não foi confirmada, e uma vendedora mais próxima ao segurança não quis revelar o motivo da execução.  

Coronel Sturaro no comando

Nesta quinta-feira (27), o prefeito Bruno Reis (União Brasil) anunciou uma série de medidas para tentar conter a violência no Centro Histórico, entre elas, a criação da 11ª Prefeitura-Bairro de Salvador, a do distrito Cultura do Centro Histórico, que vai compreender locais como o Pelourinho, Gamboa, Barroquinha, Comércio e Santo Antônio.

Para comandar a gestão da Prefeitura-Bairro, o escolhido foi o ex-comandante da Polícia Militar e coronel reformado, Humberto Sturaro, recentemente entrevistado pelo BNews para, justamente, falar sobre os contantes assaltos no Pelourinho.

Logo no dia da nomeação, Sturaro concedeu uma entrevista ao BNews, revelando seus primeiros passos na gestão

Além da criação da Prefeitura-Bairro, foi anunciado o reforço policial na área. Segundo informações divulgadas pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), 30 novos soldados, formados na semana passada, integram às ações de patrulhamento na região.

Também haverá a contratação imediata de 100 guardas municipais. A convocação sairá até esta sexta-feira (28) no Diário Oficial do Município de Salvador (DOM-SSA).

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